2024 e 2025: Retrospectiva e preâmbulos
O Diário - 20 de dezembro de 2024

Kleber Aparecido da Silva é professor Associado 3 dos Cursos de Letras e de Relações Internacionais da UnB. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq – 2ª
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Retrospectiva, palavra originada do latim que significa: a) o mesmo que retrospecto; b) exposição em que se apresentam as obras de um artista, de uma escola, com perspectiva histórica, mostrando a respectiva evolução e c) relato de uma série de acontecimentos decorridos durante certo período; retrospecto. E preâmbulo/perspectiva, o que significa? A palavra “preâmbulo”/perspectiva – passeio (lt.: ambulare = passear) pelo tema de uma obra, neste caso por um ano (2025), antes (lt.: pre) da própria obra/ano, caminhada preliminar, antes do limiar da obra que ainda não começou a ser lida. Se pudéssemos fazer um preâmbulo de 2025, o que redigiríamos neste texto? A meu ver, cada cidadão redigiria um texto completamente diferente, visto que a textura, tessitura, a teia, se respaldaria nas experiências vivenciadas de uma forma singular/peculiar por cada um de nós. Ao passo que vivenciamos experiências, (re) construiríamos este texto, que poderia contemplar questões relacionadas à economia, a política, o esporte, o meio ambiente, a educação e a cultura.
Pergunto: O que faremos com os feitos “conquistados” e os defeitos “herdados” e/ou “praticados” no ano de 2024? Deveríamos fazer algo mais do que o especial da Rede Globo e que sintetizará o ano de 2025 em 90 a 100 minutos de duração. Precisamos, a meu ver, de (re) pensar em mecanismos não só teóricos, mas práticos para a (re) construção de uma sociedade mais crítica, reflexiva e emancipatória. Em síntese, precisamos de fazer/vivenciar/sentir o que Kanavillil Rajagopalan já disse. Precisamos de pensar a vida, sobre a vida e com a vida. A ciência pensa a vida e, como tal, pensar sobre a vida não elimina pensar em vida. É um engodo criar um espaço estratosférico para a vida da ciência, pois sem o oxigênio vital que nos cerca podemos parar de respirar e de nos alimentar da vida (aliás, não é este o objeto maior da ciência?). Pensar sobre indica distanciamento; pensar em indica o mergulho. No entanto, ambas as posições comungam no pensar: não há como excluir ramos de uma mesma teia.
E para finalizar, ecoo as palavras poéticas (e até certo ponto “proféticas” “preambulares”) de João Cabral de Melo Neto às minhas, em Morte e Vida Severínia: “(...) E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina”.