Qualiquantitativo
luciano-borges - 30 de dezembro de 2023

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
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Tudo junto e sem hífen
A Academia Brasileira de Letras (ABL) apresenta toda semana uma nova palavra ou mesmo uma expressão que, pelo uso corrente na língua, passa a fazer parte do vocabulário oficial do país. Assim, o termo, já consagrado pelo uso, pode até ganhar roupa nova. Isso porque é o conjunto de regras da língua portuguesa que estabelece a grafia correta, como é o caso da palavra qualiquantitativo.
A partir do anúncio da ABL, todo texto acadêmico produzido por meio de pesquisa que compreenda descrever, classificar e interpretar informações de caráter empírico (baseadas em entrevistas, fenômenos etc.) e que também contenha a análise de estatísticas e dados numéricos, deve fazer menção à abordagem qualiquantitativa, escrevendo tudo junto e sem hífen. Aliás, adjetivo que é, qualiquantitativo, deve ainda, via de regra, concordar com o substantivo a que se refere em gênero e número.
É sempre o contexto de uso que motiva e determina as diferentes estruturas sintáticas, o que envolve uma relação de reciprocidade entre as regras gramaticais da língua e as situações reais de uso. Em circunstâncias de escrita acadêmica, em que o uso é mais monitorado, até a publicação da ABL, a grafia da palavra qualiquantitativo oscilava entre “análise quali e quantitativa” e “análise quali-quantitativa”.
À primeira vista, a junção de dois adjetivos em único pode parecer arbitrária, ou seja, imposta pela ABL. No entanto, a língua é um sistema, o qual possui as próprias regras de formação de um novo termo. Com efeito, as palavras que compõem o léxico brasileiro seguem um processo. No caso de qualiquantitativo, é o da composição, que une dois vocábulos. Ao aglutinar duas palavras, pelo menos uma sofre alteração em sua estrutura: qualitativo/quantitativo = qualiquantitativo.
Ao observar os usos linguísticos, estudá-los, é que se torna possível repelir o tratamento ingênuo, não científico, que uniformiza a língua. As regularidades no uso da língua são passíveis de análise e explicação, porque elas estão aí, no dia a dia, na relação, na interação, no contexto.
Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais