Esqueci minha senha
Filhos atendem pedido da mãe e doam órgãos e corpo para estudo

Adelaide Lavanini - 29 de junho de 2024

Compartilhar


Rins foram captados para transplante e corpo enviado para Faculdade de Ciências da Saúde (FACISB)

https://youtu.be/wk-Pqf26cAk

Os filhos de Rosalina de Souza França atenderam um pedido da mãe e autorizaram a doação de seus rins e corpo após constatação da morte cerebral. A senhora de 73 anos foi internada na Santa Casa no domingo (23), mas não resistiu a um AVC hemorrágico e morreu na quarta-feira (26).  Segundo o filho José Lopes Junior, doar o corpo para estudo sempre foi a vontade da mãe que não media esforços para ajudar ao próximo. “Ela sempre disse que gostaria de ter o corpo doado e dessa forma todos os quatro filhos respeitaram a vontade dela”, disse.

Senhora Rosalina tinha 73 anos

Após constatada a morte cerebral, a família informou a possibilidade à Santa Casa que acionou a OPO (Organização de Procura de Órgãos). Posteriormente, a FACISB iniciou os trâmites para receber o corpo. “Optamos por não ter velório, preferimos que a despedida fosse na UTI enquanto o coração ainda batia”, comentou. Ele explicou que a mãe não estava doente, mas fazia controle com remédio da diabetes e pressão alta. “Foi algo repentino, conversamos na sexta-feira e no domingo a encontrei deitada, sem estímulos e respirando com dificuldades”, ressaltou. José Junior comentou que o ato da mãe, mesmo após a morte, é digno de nobreza. “Resolvemos divulgar para que outras pessoas saibam a importância que é a doação de órgãos para salvar outras vidas”, finalizou.

Enfermeira da Santa Casa relata “corrida contra o tempo” para captação

Josiane Oliveira de Jesus coordena as UTIs adulto da Santa Casa

A enfermeira Josiane Oliveira de Jesus coordena as UTIs adulto da Santa Casa. Também integra a equipe da CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante da Santa Casa). A profissional atuou no processo para captação dos rins da senhora Rosalina e relata a corrida contra o tempo. “É um processo detalhado e sério, com fechamento de diagnóstico de morte encefálica com várias provas clínicas e avaliação de médicos diferentes”, afirmou.


De acordo com ela, a família participou de reunião sobre os procedimentos e uma equipe de Ribeirão Preto atuou na captação dos rins. “Notificamos a central sobre a potencial doadora, enviamos exames para atestar a compatibilidade e não sabemos sobre o receptor porque é algo sigiloso”, comentou. Segundo a enfermeira, a extração dos rins teve início às 10h45 e término 14h45. “A doação de órgãos é um ato de amor e solidariedade que pode salvar muitas vidas”, destacou.

Números

De janeiro a junho, a Santa Casa identificou 19 potenciais doadores de órgãos.Do total,7 famílias aceitaram doar coração, fígado, rins, córneas, tendões, ossos e pele. Cinco famílias recusaram e outros cinco doadores foram recusados pela central devido às comorbidades.

Professor considera “gesto nobre” e explica atuação da FACISB

Professor Robson Boni explicou sobre a pesquisa na faculdade

O professor anatomista Robson Boni considera nobre o ato da família em doar o corpo da senhora Rosalina para estudos da FACISB. O profissional observa que o Brasil e o mundo têm escassez de material humano para fins de estudo e pesquisa. “É um material de valor inigualável e muito necessário para os cursos da área de saúde e aperfeiçoamento profissional”, destacou. Segundo Boni, após a captação na Santa Casa, o corpo chegou à FACISB com a certidão de óbito específica. “Fizemos o preparo para estabilizar com técnicas e produtos que preservam os tecidos”, explicou. De acordo com o professor, os corpos são preparados de forma diferente conforme a característica para então serem estudados. “Analisamos a potencialidade que oferecem nos sistemas orgânicos esqueléticos, digestório, circulatório e de tecidos”, comentou.

Trâmite

O professor Boni explicou que a faculdade é a guardiã legal dos corpos, mas não tem a posse. “Se após a doação a família quiser reaver os restos mortais dos entes, a qualquer momento pode solicitar”, explicou. No entanto, pondera que à medida que os corpos são estudados sofrem fragmentações. “Se houver solicitação entregamos à família o que se dispõe do corpo naquele momento”, observou.

Estudo

Atualmente a FACISB é guardiã de 15 corpos doados e que não podem ser cedidos às outras instituições. “Os corpos foram doações voluntárias, algumas pessoas conversei em vida sobre a importância. Todo corpo está legalmente amparado pela autorização das famílias com documentação registrada em cartório”, finalizou.