Mas
luciano-borges - 28 de julho de 2024

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
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Não escreva essa conjunção em início de frase!
A conjunção “mas” iniciando frase ou parágrafo em textos jornalísticos é uma prática comum. Ainda que seja uma inadequação gramatical, ela encontra terreno fértil no desejo do escritor, isto é, do articulista, por encontrar uma voz autoral e, sobretudo, legível. A bem da verdade, tal estilo apenas normaliza o erro. A rigor, as conjunções existem para cumprir a sua função inata, qual seja, relacionar entre si termos e orações, ora coordenando, ora subordinando.
Cooptar elementos da oralidade e levá-los para a língua escrita é, em parte, uma forma de aproximar o texto do leitor. Contudo, cria problemas concretos para a sociedade! Isso porque nem sempre as pessoas são capazes de perceber que estão lendo um texto cujo estilo não deve ser reproduzido em processos seletivos, tampouco utilizado para responder questões dissertativas em provas de concursos públicos. Eis aí duas situações da vida real que cobram dos candidatos escrita adequada à norma-padrão da língua portuguesa.
É na sala de aula que o professor especializado em redação nota o despreparo dos estudantes diante das formas de expressão da linguagem. Eles desconhecem que há tipos de variação linguística, por exemplo. Que a escrita é uma forma gráfica de comunicação, motivo pelo qual a palavra é um símbolo; que existem situações que pedem uma redação informal, espontânea, cotidiana; que há outras que devem seguir estritamente as prescrições da norma-padrão, ou seja, adequar a escrita à modalidade formal; que também se pode encontrar uma escrita popular, exagerada, cujo uso foge à norma culta.
As conjunções são conectivos, como é o caso de mas. Elas ligam duas orações dependentes ou independentes ou, ainda, dois termos semelhantes da mesma oração. Logo, como podem iniciar frases ou parágrafos? Por exemplo, em “Mas, a leitura diária enriquece o vocabulário”. Nessa oração, a palavra mas, acredite, não é uma conjunção. O que ela está ligando? Nada a nada. Se não é conjunção, o que é então? Termo expletivo! Em bom português, uma palavra inserida no início do período, mas que é desnecessária ao sentido da frase.
Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais