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As democracias poderão sobreviver no mundo atual?

O Diário - 19 de outubro de 2024

As democracias poderão sobreviver no mundo atual?

David de Oliveira Zanon - Bacharel em Relações Econômicas Internacionais pela UFMG com Formação Complementar em Ciência Política

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Nas últimas décadas, o aumento da violência política e a ascensão de lideranças com inclinações autoritárias têm contribuído para uma percepção generalizada de que a democracia liberal está em declínio em escala global. Embora o mundo tenha vivenciado uma onda de democratização nos anos 1990, marcada pelo colapso da União Soviética e o início da hegemonia americana, o cenário atual é diferente. Com o poder global mais disperso, a Rússia retomando seu protagonismo e a China exercendo uma influência sem precedentes, muitos consideram incerto se os regimes democráticos conseguirão se sustentar.

Os cientistas políticos Steven Levitsky e Lucan A. Way abordam essa questão no recente artigo “A surpreendente resiliência da democracia”, onde argumentam que, apesar das preocupações com uma suposta onda de autocratização, as democracias contemporâneas permanecem mais fortes do que nunca. Eles apontam que a resiliência das democracias emergentes se deve a dois fatores principais: o desenvolvimento socioeconômico e a fraqueza autoritária de Estados com instituições menos consolidadas.

Os países economicamente mais desenvolvidos tendem a ter democracias mais estáveis devido à melhor distribuição de recursos na sociedade. Sem a concentração de riqueza nas mãos do Estado, os cidadãos tornam-se menos dependentes do governo para empreender e garantir sua subsistência. Essa independência permite que eles se organizem em partidos e associações civis, fortalecendo a fiscalização do poder sem o temor de sofrerem retaliações econômicas ao se oporem a governos autoritários.

Além da modernização econômica, que fortalece a oposição política em países de alta renda, os retrocessos autoritários raramente têm sucesso em países de renda média devido à dificuldade desses governos em impor uma governança eficaz. Assim, a democracia persiste em economias emergentes principalmente pela ausências de ferramentas organizacionais necessárias para consolidar o autoritarismo, freando as tentativas de censurar opositores políticos, reprimir protestos ou manipular resultados eleitorais.