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Está tudo errado

O Diário - 4 de dezembro de 2024

Está tudo errado

DANILO PIMENTA SERRANO É ADVOGADO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

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“Está tudo errado!”. Este tem sido o meu pensamento recorrente ao ler o noticiário brasileiro nos últimos meses. Vivemos uma sobreposição tão intensa de notícias absurdas, que parece que estarmos ficando anestesiados com os reiterados absurdos diários.

Já há algum tempo, o STF tem sido profícuo em gerar notícias inacreditáveis. A mais recente delas, pelo menos quando escrevo este artigo, é a decisão do Ministro Flavio Dino que, em uma espécie de Bebelplatz tupiniquim, mandou recolher e destruir exemplares de quatro livros jurídicos que traziam em seu bojo ideias preconceituosas. A estupidez não se combate com censura, mas sim educação, conscientização e sobreposição de ideias.

Ainda na mesma linha das notícias absurdas, recentemente foi divulgado que a Polícia Federal indiciou dois irmãos que teriam enviado ameaças de morte por e-mail ao Ministro Alexandre de Moraes. Até aí, nenhuma irregularidade, pois suspeitos de crimes devem ser mesmo indiciados, e eventualmente processados e condenados. Contudo, o absurdo surge quando se percebe que os suspeitos não foram indiciados pelo crime de ameaça, com pena de detenção, de um a seis meses, ou multa, mas sim pelo crime de tentativa de abolição Estado Democrático de Direito, cuja pena vai de 4 à 8 anos de prisão. Esse é só mais um exemplo da confusão do Estado com uma pessoa, mais um exemplo do “l’estate c’est moi” do Ministro Alexandre de Moraes.

Do outro lado da praça dos três poderes há um Executivo discutindo um corte de gastos – necessário, mas doloroso – enquanto discute abertamente a compra de um novo avião presidencial, e de aviões para o deslocamento de ministros, meses após o governo gastar aproximadamente R$ 100 mil na compra de um sofá e uma cama para o presidente e a primeira-dama. Falando na primeira-dama, é espantoso que esta agrida verbalmente um empresário estrangeiro, futuro ocupante de um importante cargo no governo norte-americano. 

Por fim, um pouco menos absurdo, mas que me causa certo incômodo, é a normalização das “notícias de bastidores”. Na TV e na rádio são diversos os programas que tratam especificamente “dos bastidores” de Brasília. Ainda que isso tenha sido normalizado, esse tipo de programa não deveria sequer existir, pelo simples fato de que, em um mundo ideal, a política, toda ela, deveria ser feita às claras, com total transparência à população, e não por meio de conchavos e acordos espúrios nas sombras dos Palácios. Está tudo (muito) errado no Brasil.