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Os dois livros de deus, segundo santo agostinho

Diocese de Barretos - 16 de janeiro de 2025

Os dois livros de deus, segundo santo agostinho

Os dois livros de deus, segundo santo agostinho

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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

Segundo a tradição, Santo Agostinho relatou em suas obras que Deus escreveu dois livros: o da Vida e o da Bíblia. O primeiro livro de Deus não foi a Sagrada Escritura, mas sim a criação, a vida. Com a eficácia e a plenitude de sua divina Palavra, o “Fiat” – o “faça-se” –, Ele criou as coisas falando, e assim foram compostas as mais belas páginas da vida, o Paraíso. Páginas da natureza, e não de uma obra literária, contadas pela cronologia dos acontecimentos e não pelos números impressos em um papel ou em capítulos e versículos, mas em ações realizadas no transcurso dos dias.

Este “primeiro livro de Deus” supera todo o encantamento das modernas obras de ficção cinematográfica, simplesmente porque não é fictício ou fantasioso, mas real, pleno da intimidade de Deus, com toda a força e todo o amor do seu Espírito, que formou o interno e o entorno de cada bela criatura ditada pelo sopro divino. Para o renomado teólogo Carlos Mesters, “tudo que existe é expressão de uma palavra divina. Cada pessoa é uma palavra ambulante de Deus” e traz as marcas, o DNA do Criador. Olhando para a criatura, chega-se ao Criador e, assim, o visível leva ao invisível, o imanente ao transcendente, o material ao espiritual, a criatura ao Criador, o homem a Deus.

Santo Agostinho diz que foi o pecado cometido pelo homem que o levou a perder o dom da contemplação e o tornou incapaz de nutrir-se com a voz de Deus no “primeiro livro da vida”. É por isso que Deus escreveu um “segundo livro”, o da Bíblia. Para ele, este segundo livro não substitui o primeiro e foi escrito exatamente para nos ajudar a entender melhor o livro da vida e para nos devolver a pureza de coração e o dom da contemplação deste primeiro livro. Assim, toda a criação volta a ser uma revelação de Deus para nós. Este segundo livro, o da Bíblia, ajudou o povo peregrino a descobrir a fala divina no primeiro livro de Deus, despertou-lhe o desejo de buscar a Deus e abriu-lhe os olhos da fé para interpretar os sinais dos tempos, até aquele momento sublime em que “a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Em Jesus Cristo – o Verbo preexistente eternamente junto do Pai e do Espírito Santo, que se fez carne no mundo –, os livros da vida e da Bíblia se unem numa só pessoa divina do Filho de Deus, para que não cesse aquele nutrício diálogo de amor entre o Criador e a criatura, o qual chamamos de salvação.