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Folia de Reis

O Diário - 22 de janeiro de 2025

Folia de Reis

Priscila Ventura Trucullo é professora de história da rede pública estadual; @pritrucullo

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Janeiro ainda não é findo e este período me remete à lembrança de minha infância, quando as companhias de reis peregrinavam pelas ruas metendo-se nas casas adentro e requisitando aos moradores honras aos santos reis e hospitalidade aos artistas.  Assim como nos lembra a canção de Tim Maia, o dia de santo reis “anda meio esquecido, mas é o dia da festa de santo reis” que, sublinhado aos seis de janeiro, encerra o chamado ciclo natalino. E você? Lembrou-se do dia de santo reis no último dia seis? Viu alguma companhia de reis perambulando pelas ruas de seu bairro? Alguma criança assustada ou entusiasmada com a passagem dos “palhaços” à porta de casa? Se negativa for sua resposta, ressalte-se a importância dos raros grupos que se dedicam à preservação deste patrimônio cultural imaterial, manifestação folclórica e ato de fé do catolicismo. 

Segundo Câmara Cascudo, a folia “[...] era no Portugal Velho uma dança rápida, ao som do pandeiro ou adufe, acompanhada de cantos [...] ´uma espécie de confraria, meio sagrada, meio profana, instituída para implorar a proteção divina contra pragas e malinas que às vezes infestavam os campos’ [...] No Brasil a folia é bando precatório que pede esmolas [...] para a festa dos Santos Reis Magos (Folia de Reis) [...]”. Segundo o autor o termo folia “[...] alude indiferentemente à folia e à bandeira, como sinônimos dos mesmos ‘ranchos de rapazolas, brancos, crioulos e mestiços, vestidos de branco, com as jaquetas enfeitadas de laçarotes de fitas”, o que me lembra mais uma vez os versos de Tim Maia  “[...] eles chegam tocando sanfona e violão. Os pandeiros de fita carregam sempre na mão”, à semelhança dos “bandos de música” registrados pelo folclorista, quando notou que “As folias andam à noite [...] Da véspera de Natal (24 de dezembro) até a Candelária (2 de fevereiro), representando os próprios reis magos, sai angariando auxílios. [...] Com violões, cavaquinho, pandeiro, pistão e tantã cantam à porta das casas, despertando os moradores, servindo-se de café ou uma pequena refeição.” (CASCUDO, 1954). A arrecadação serve à grande festa de seis de janeiro e à ceia que encerra o ciclo festivo em dois de fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias. Portanto, ainda é tempo de dar vivas às Folias de Santos Reis!