Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

Vivemos numa época em que, para muitos, a “quantidade” vale mais do que a “qualidade”. O valor atribuído a muitas das ações humanas não é pautado pelo conteúdo em si, nem pela ética ou pela tradição local, mas pelo alcance quantitativo do que se faz. Essa é uma métrica muito comum nos meios virtuais de comunicação, sobretudo nas redes sociais, onde importa mais a quantidade de “curtidas” ou “likes” do que a qualidade ou o benefício do conteúdo transmitido.

Essa mentalidade matemática, aplicada à valorização das ações humanas, acaba por relativizar e minimizar muitas coisas que são realmente importantes, cujo valor qualitativo provém exatamente de quantidades menores. Diz o ditado popular: “Quanto menor o frasco, melhor o perfume”. Ou, ainda, segundo a mentalidade econômica e comercial: “Quanto maior a escassez, maior a procura e mais alto o preço”. É por isso que, no âmbito da fé, não se pauta pelo alcance quantitativo, mas pelo qualitativo dos cristãos que vivem, de fato, a fé que professam. Tem sido assim desde o início, quando tudo começou com apenas um patriarca, Abraão, que deixou a pequena Ur dos Caldeus para se tornar um pai na fé para muitos. Foi assim também que um “pequeno resto de Israel” manteve-se fiel até habitar a Terra Prometida. Do mesmo modo, foi assim que Jesus fundou sua primeira comunidade, composta por doze discípulos, que levaram a Boa Nova do Evangelho até os confins do mundo.

Após o ano 70 d.C., os judeus fariseus e o Império Romano intensificaram a perseguição às primeiras comunidades cristãs, gerando uma crise profunda. É nesse contexto que o evangelista Mateus registra um dos ditos famosos de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18,20). O que importa é Sua presença, que dá sentido e garante eficácia a tudo o que fazemos em Seu nome. Certa vez, Dom Bosco respondeu a uma piedosa senhora que temia a diminuição dos cristãos no mundo: “Deus não está conosco? Se Deus está conosco, nós somos a maioria!”. Dessa forma, Dom Bosco faz ecoar aquela certeza da fé que pronunciamos em todas as ações litúrgicas quando, ao padre que diz: “O Senhor esteja convosco”, nós respondemos: “Ele está no meio de nós”.

Hoje, mais do que em outros tempos da era cristã, valoriza-se mais os eventos em massa da fé do que as pequenas comunidades que vivem, no dia a dia, o mistério da fé. Mais vale um padre que sobe algumas horas em um palco do que aquele que passa o dia todo despercebido dentro de um confessionário ou peregrinando pelos bairros para visitar os enfermos e necessitados. Interessa mais um espetáculo massivo da fé do que o preceito dominical do Dia do Senhor.