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O caso Vitória: audiência e violência

O Diário - 11 de março de 2025

O caso Vitória: audiência e violência

André Luís L. Ribeiro, professor de Literatura e Redação, sócio-fundador do Curso Vozes Humanas, Redação & Repertório

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A realidade é cruel, como mostra a disputa midiática pelo caso Vitória, que lembra O Abutre (2014), dirigido por Dan Gilroy. No filme, Lou (Jake Gyllenhaal) lucra capturando cenas de crimes antes da polícia, sem qualquer limite ético.

Em 2008, Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, foi morta pelo ex-namorado Lindemberg Alves, na época com 22. O assassino fez a vítima refém por cinco dias. Obviamente, o cárcere foi transmitido ao vivo por canais disputando a audiência como abutres. Então, uma apresentadora resolveu falar ao vivo com o sequestrador, ignorando qualquer orientação policial, e sem qualquer preparo para lidar com negociações.

Agora, o pai de Vitória, menina brutalmente assassinada em Cajamar, fica sabendo ao vivo, em um programa televisivo, sobre atualizações da investigação, e claro, fica sem palavras. Se o foco é audiência, amigos, o respeito ao próximo se perde. O mal fica banal, não se pensa nele. Hannah Arendt, filósofa de origem judia, na obra Eichmann em Jerusalém (1963), mostra como perdemos os limites entre o mal personificado e o que é comum, mesmo aceitável, quando esse mal se repete a olhos vistos.

Em Elefante (2003), Gus Van Sant foca na rotina dos estudantes, inspirando reflexão sobre a tragédia de Columbine. A violência gráfica é contida, diferentemente de filmes de ação, levando o espectador a questionar suas causas. Já produções sanguinolentas chocam, mas sem provocar reflexão, apenas repetindo a violência.

Agora, de volta ao caso – no que você pensa quando vê imagens da violência? Ou não pensa, só compartilha? O combate à violência começa quando você reflete. Não seja refém de uma sociedade do espetáculo.