“Nenhum profeta é bem recebido” (Lc 4,24)
O Diário - 10 de abril de 2025

“Nenhum profeta é bem recebido” (Lc 4,24)
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
A tradição cristã, à luz da Sagrada Escritura, distinguiu três modos de atuação no ministério público de Jesus: ensinar, santificar e governar. No ato de ensinar, Jesus é reconhecido como verdadeiro Profeta, sendo comparado nos Evangelhos a Moisés e Elias do Antigo Testamento. No ato de santificar, Jesus é reconhecido como verdadeiro Sacerdote, pois sua oferta cultual é perfeita, dada a excelência da vítima, que é Ele mesmo (cf. Hb 9-10). Na ação de governar, Jesus é reconhecido como verdadeiro Rei, ou melhor, como o Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10,11-19) e que atrai multidões de discípulos (cf. Mc 8,34-35).
Como Bom Pastor, Jesus revelou que seu ministério não se baseia na concentração de poder, mas, ao contrário, na doação de sua vida para dar poder aos que não têm poder, isto é, conceder às suas ovelhas o direito e as condições de viverem dignamente, como verdadeiros filhos de Deus. Assim, demonstrou que poder é serviço e não dominação; é entrega, doação de vida, e não acúmulo de riquezas ou privilégios.
Como Sacerdote, Jesus intercedeu em favor de todos os necessitados, sem se importar com as restrições da lei judaica nem com os limites geográficos e étnicos de um povo escolhido: curou em dia de sábado, tocou um leproso, atuou na Galileia dos pagãos e conversou com uma samaritana. Sua compaixão pelos vulneráveis e seus inúmeros milagres atraíam multidões, a ponto de sua fama se espalhar por toda a Síria, Judeia, Galileia, Decápolis e além do Jordão (cf. Mt 4,23-25; Lc 4,14-15).
Como Profeta, Ele não hesitou em proclamar a verdade desde sua primeira pregação na sinagoga de Cafarnaum, revelando sua identidade e missão (cf. Lc 4,16-30). Sua fidelidade à Palavra, à verdade e à vontade do Pai desagradou a muitos, custando-lhe a condenação e a morte na cruz. Assim, aqueles que o aclamaram como rei, elevando ramos de oliveira em sua entrada triunfal em Jerusalém, pouco depois, ao ouvirem suas palavras proféticas cheias de verdade e exigências de conversão, puseram-se a gritar diante de Pilatos, quase como se segurassem uma arma nas mãos: “Crucifica-o! Crucifica-o!” (Lc 23,21).
No entanto, o Pastor que governa, o Sacerdote que santifica e o Profeta que ensina é o mesmo e único Jesus. Resta-nos a pergunta: qual Jesus queremos seguir? Ainda hoje, multidões correm atrás de um Jesus milagreiro, participando de comunidades e cultos que prometem curas e prosperidade. Querem um Jesus Bom Pastor, que derrame até a última gota de sangue para salvá-los nos momentos difíceis da vida. Mas são poucos os que aceitam um Jesus Profeta, que, ao anunciar a Boa Nova do Evangelho, os incomoda e questiona em suas más condutas, exigindo renúncias e uma profunda conversão de vida. Bem profetizou Jesus: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4,24).