A palavra SE
luciano-borges - 22 de abril de 2025

Prof. Luciano Borges é doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
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Dicas Gramaticais
O emprego da palavra “se” na língua portuguesa é um dos temas mais relevantes para a compreensão e o domínio da norma-padrão, sobretudo em contextos de produção textual formal, como é o caso de testes de língua portuguesa em processos seletivos públicos ou privados. Sua multifuncionalidade, refletida nas distintas funções sintáticas que pode desempenhar, evidencia a complexidade estrutural da língua. Além disso, os frequentes desvios observados na construção da voz passiva e na colocação pronominal revelam o quanto o seu uso inadequado compromete a clareza e a correção de textos. Assim, torna-se fundamental compreender tanto a pluralidade de empregos do “se” quanto os principais erros associados à sua aplicação.
A multifuncionalidade do “se”, como reflexo da complexidade sintática da língua portuguesa, constitui um dos elementos mais expressivos da estrutura gramatical. Quando atua como partícula apassivadora, o “se” transforma uma oração ativa em passiva. Parece complicado, mas não é. Por exemplo, “A empresa lançou o produto”. O sujeito aqui é a empresa, certo? É ela quem pratica a ação, mas se a frase for reescrita para a forma passiva analítica, obtém-se: “O produto foi lançado pela empresa”. Nesse caso, a palavra empresa, antes sujeito, passou a sofrer a ação do verbo... Tornou-se o paciente, por isso, voz passiva! Outro exemplo é a voz passiva sintética, na qual o “se” liga-se ao verbo, transformando a frase inicial para “Lançou-se o produto”. Aqui já não é mais possível saber quem executa a ação expressa pelo verbo.
De fato, o uso inadequado do “se” figura entre os principais fatores de desvios, não apenas na construção da voz passiva como também na colocação pronominal. Aliás, um deslize comum é iniciar frases com o pronome oblíquo átono, contrariando uma regra elementar da colocação: a ênclise é obrigatória em início de frase. Por essa razão, a oração “Se resolveu o problema com facilidade” está errada do ponto de vista da norma-padrão, enquanto “Resolveu-se o problema com facilidade” está correta. Isto posto, dominar essas normas vai além do preciosismo gramatical, uma vez que diversas provas cobram essas mesmas regras com frequência. Afinal, em tempos de competição acirrada, tropeços gramaticais tiram a vaga de muita gente. E, como se sabe, no jogo da língua, detalhes fazem toda a diferença.
Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais