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A arte de correr na chuva

O Diário - 8 de julho de 2023

A arte de correr na chuva

Marcelo Murta

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“Tá com jeito de temporal. Se apruma pra dentro moleque. Sai da rua que o céu vai desabar”. São Pedro tá zangadão e resolveu arrumar os móveis lá no céu. Trovão de botar a banda Metálica no chinelo. Heavy metal de fazer surdo escutar. Abriu as comportas donde nasce o arco íris. Pingo d’água gelado doido. Poça na terra crescendo embaixo dos pés descalços. Mundo molhado. A Terra deveria ser chamada de Água. Tem mais oceanos que continentes. Carrinho de rolemã descendo veloz no asfalto encharcado. “A arte de correr na chuva”. Talento que só Ayrton Senna tinha. Quem gosta de Fórmula 1 vibrava quando chovia. O show era só dele. O cachorro Enzo é fã do piloto brasileiro. Ele estuda o mundo na tentativa de virar humano. Torcendo para que na sua próxima encarnação consiga realizar o seu desejo. Garth Stein autor da obra que leva o título desta crônica é apaixonado por automobilismo. Teve a ideia de escrever este livro quando assistiu o Grande Prêmio de Detroid em 1986 vencido pelo brasileiro Rei das Pistas. Um cão, seu dono e um piloto, um trio incomum para qualquer inspiração literária. Mas a imaginação do escritor é admirável. A obra é modelada nos desejos  e absurdos dos seres humanos. Como toda história de amor, é cativante de não desgrudar os olhos a cada página virada. Stein é produtor de cinema também. Seu romance virou filme. Senna se foi, deixou um legado, mas também milhões de brasileiros órfãos. Num país tão carente de ídolos, perdemos nosso Verdadeiro Herói. Nossas manhãs de domingo  ficaram mais pobres. Até cachorro idolatrava o cara. Enzo deveria ter ganho um Oscar, no mínimo de melhor ator coadjuvante. Abraços cavalares!

Marcelo Murta