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“A beleza salvará o mundo”

Diocese de Barretos - 20 de fevereiro de 2025

“A beleza salvará o mundo”

“A beleza salvará o mundo”

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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

Essa célebre frase do filósofo e romancista russo Fëodor Dostoiévski, em sua obra “O Idiota” (1869), nos faz refletir sobre em que consiste a elegância cristã que nos reveste com a beleza de Deus, salvadora do mundo. Sobretudo, quando o autor ousa dizer: “Saiba que a humanidade, para viver, não precisa de ciência nem de pão. Somente a Beleza lhe é indispensável, porque sem Beleza não poderemos fazer mais nada neste mundo”. Em uma sociedade onde a ciência é quase cultuada por sua “onipotência” e há uma supervalorização dos bens materiais – o pão –, resta perguntar: em que consiste a verdadeira Beleza? Trata-se apenas da forma estética ou é algo ainda mais profundo? Dostoiévski via a beleza não apenas como algo estético, mas como uma forma de verdade espiritual e moral. Também o teólogo e místico bizantino Nicolau Cabasilas, em sua obra “A Vida em Cristo” (por volta de 1363), ao enfatizar a centralidade da beleza interna e espiritual, afirma que a beleza não é estética, mas ética; não é formal, mas relacional. A verdadeira beleza não está no aspecto aparente do corpo humano ou nos títulos honoríficos conquistados, mas na capacidade de entrar em relação com o outro e criar vínculos profundos de amor. Basta olhar para Jesus desfigurado na cruz, e todos sentirão os horrores dos nossos pecados na carne santa do Redentor. Então, por que devotamos tanto o Jesus ferido na cruz? Que rei se sentaria no trono da cruz ou seria glorificado com uma coroa de espinhos? Que beleza há nisso? A resposta está na gratuidade de um amor oblativo, que não abandona, não culpa, não é egoísta, mas que se dispõe a desgastar a vida pelo outro, doando-se livremente. De fato, numa fiel tradução do texto joanino, disse Jesus: “Eu sou o ‘Belo’ Pastor, o ‘Belo’ Pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10,11). Portanto, mais do que encantadora ou fascinante, a verdadeira beleza é envolvente e relacional. Ela se manifesta não apenas esteticamente, mas, sobretudo, eticamente, quando nos relacionamos movidos pelo Amor, gerando participação e comunhão entre as pessoas, tal como Jesus se relacionou com os pecadores e necessitados de seu tempo. O teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, em sua obra “Glória: Uma Estética Teológica” (1961-1969), afirma que “a Beleza é Jesus Cristo, encarnação de Deus e divinização do homem. O cristianismo é o princípio sobrenatural jamais superável de cada estética, a religião estética por excelência”, pois revela a mais necessária e envolvente beleza: o Amor. De fato, escreve o teólogo russo Pavel Florenskji: “A verdade manifestada é amor. O amor realizado é beleza”, em “A Coluna e o Fundamento da Verdade” (1914). Jesus é a Beleza que nos encanta e nos envolve. Assumindo nossa humanidade, Ele nos reveste com sua divindade e nos eleva à condição de “filhos de Deus”. Nada é mais belo do que um amor em que podemos nos relacionar com Deus como um Pai, e Ele conosco como seus filhos. Nada é mais salutar e elegante do que ser reconhecido e acolhido. A Beleza que salva o mundo é o eterno amor de Deus, que nos criou e nos refaz. Bem disse o evangelista João: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou. Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4,8.10.16).