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A (des)carnavalização educacional no Brasil 

O Diário - 25 de março de 2025

A (des)carnavalização educacional no Brasil 

Kleber Aparecido da Silva é Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e em Linguística na Universidade de Brasília. Foi Visiting Scholar em Stanford University, Penn State University e CUNY Graduate Center, em New York. É Bolsista em Produtividade em Pesquisa pelo CNPq

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Qual são os países que lhe vêem a sua mente quando fazemos menção a “Inglês”? Acredito que Estados Unidos e Inglaterra, potências em todos os âmbitos possíveis. E quando fazemos menção à Índia? Talvez lembramos da língua hindi e/ou de variedades linguísticas e culturais presentes neste país e logo (re) lembramos que a Índia faz parte do BRIC (composto por Brasil, Rússia, Índia e China”) e que teve um grande pensador/filósofo universal, (re) reconhecido no âmbito nacional e internacional: Mohandas Karamchand Gandhi? E Brasil, o que lhe veem a sua mente? A meu ver, deve vir várias imagens ou representações sociais. Dificilmente veem a nossa mente a identidade linguística e cultural brasileira. Por quê? Esta questão é de suma importância e será problematizada neste artigo. 

Enquanto que em outros países há uma (super) valorização da língua(gem) e da cultura, no Brasil não há esta valorização. Isto se deve, a meu ver, a vários aspectos. O primeiro, é a herança dos nossos colonizadores, que (re) construíram um atitude denominada “paternalista’ ou “subalterna”, e de supervalorização do(s) outro(s) e inferiorização de nós mesmos. Denomino este sentimento como “jequismo” (Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, que “não é assim, mas está assim”) ou paroquialismo (vive no glocal e esquece do global). É função social da escola combater este sentimento e possibilitar mecanismos para que os nossos alunos (re) construam a sua identidade linguística e cultural. 

Para tal intento, é necessário que “descarnavalizemos” o ensino em nossas escolas. Ou seja, o ensino-aprendizagem hoje no Brasil se encontra carnavalizado, ou seja, é uma “festa” (pejorativamente falando). As pessoas não sabem o “por quê”, “para quê” e “como” estão aprendendo. O ensino teórico/prático das escolas está muito distante da realidade social em que estamos inseridos. Quando fizermos dos nossos ideais a nossa práxis educacional, deixaremos de ser um país de ascensão e passaremos a ser um país em consolidação em todos os âmbitos possíveis. Para isto, precisamos de desmitificar o mito da carnavalização e perpetuarmos o mito da valorização linguística e cultural.