A história das “Mães Inventadas”
O Diário - 23 de agosto de 2024
Nathália Lionel, psicóloga do Núcleo de Acolhimento Estudante (NAE) da FACISB
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Desde que aprendemos sobre “gente” e “sociedade”, entendemos que estamos no fundamentalismo de diferentes universos e preposições. A primeira delas, senão a maior ou mais intrigante, permeia a ideia do “instinto materno”, e eu aqui, a quem interessar possa, certamente irei discorrer a respeito. Começando pelo dito popular, ao qual o substantivo feminino depara-se corriqueiramente: “nasce um bebê, nasce uma mãe!” Ora, tomemos nota desta declaração: Será mesmo que esse processo, tão ontológico, dá-se por entrevero mágico, como um estalido de dedos? Coloco-me nesta intriga reflexiva e vos convido a fazerem o mesmo; sendo telespectadores, mulheres ou não... Aspirantes, ou nunca. O fato é, devemos considerar as infinitas transformações, desassossegos, inaptidões, anseios e medos, muitos medos, que porventura atravessam a jornada de uma mãe, que aqui irei atrever-me, com a licença poética por ocasião, de chamá-las de “pseudo-mães”. Isso porquê norteio esta conversa com a ideia de que certamente: “Nasce um bebê, não nasce uma mãe!” Apoiados à preconcepção de que o tal “instinto materno” está devidamente ancorado em todas as mulheres, desde seu nascimento, e de maneira absolutamente natural; faz com que sejamos ingênuos e até mesmo pungentes com “nossas mulheres”. Não levamos em consideração fatores genuinamente importantes; como a diferenças presentes entre instinto humano e instinto animal; ainda que para as classificações mais generalistas da biologia, estejamos todos surfando na mesma onda. Devo aqui provocá-lo querido leitor, a levar em consideração nossa consciência humana, e, portanto, senhores de vontades e intencionalidade, a subjetividade coloca-nos em polos absolutamente funestos a qualquer reino animal anterior. Não seria assim, uma ideia de instinto, paradoxalmente, vazia ou pouco justificável? De antemão, antes mesmo de estruturar qualquer defesa pragmática, assumo os riscos de trazer mais indagações: Será mesmo a mulher uma mera resultantes de forças impulsivas/reativas, meramente fisiológicas? Sob quais defesas escolhemos subjugar os fatores psicossociais/espirituais do gênero feminino? Penso, ser esse, mais um movimento histórico-cultural, ao qual frequentemente a sociedade aliena-se; o que na verdade, não passa de mais uma história inventada sobre nossas mães.
Nathália Lionel, psicóloga do Núcleo de Acolhimento Estudante (NAE) da FACISB