A janela do(s) outro(s)
O Diário - 18 de setembro de 2024
Kleber Aparecido da Silva é professor Associado 3 dos Cursos de Letras e de Relações Internacionais da UnB. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq – 2ª
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Parece uma parábola, mas acontece todo dia: a gente só tem olhos para o que mostra a nossa janela, nunca na janela do outro. O que a gente vê é o que vale, não importa que alguém bem perto esteja vendo algo diferente. A mesma estrada, para alguns, é infinita, e para outros curta. Para alguns, o pedágio sai caro; para outros, não pesa no bolso. Boa parte dos brasileiros acredita que o país está melhorando, enquanto que a outra parte perdeu totalmente a esperança. Alguns celebram a tecnologia como um fator evolutivo da sociedade, outros lamentam que as relações humanas estejam tão frias. Alguns enxergam nossa cultura estagnada, outros aplaudem a crescente diversidade. Cada um gruda o seu nariz na sua janela, na sua própria paisagem. Eu costumo dar uma espiada na janela dos outros. Isto me deixa menos enclausurado nos meus próprios pontos de vista, mas, em contrapartida, me tira a certeza de tudo.
Dependendo de onde você esteja posicionado, a razão pode estar do nosso lado, mas a perderemos assim que trocarmos de lugar. Só possuindo uma visão de 360 graus para nos declararmos sábios. E a sabedoria recomenda que falemos menos, que batamos menos o martelo e que sejamos menos enfáticos, pois todos estão certos e todos estão errados em algum aspecto da análise. É o triunfo da dúvida. Que tal pensarmos nisto e concebermos o mundo não só sob o nosso olhar, mas sob o olhar do(s) outro(s). Quando fizermos isto, não estaremos desenvolvendo um olhar glocal, mas um olhar global, que concebe o(s) outro(s) com um ser importante para a sua (re) construção como sujeito crítico, reflexivo, promovendo assim uma cidadania que não olha somente a sua janela, mas que olha a janela do(s) outro(s).