“A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o cristo de Deus” (lc 23,35)
Diocese de Barretos - 24 de abril de 2025

“A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o cristo de Deus” (lc 23,35)
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
Na Oitava da Páscoa, a Igreja comemora o dia glorioso da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se prolonga por oito dias festivos. É Jesus que passa da morte para a vida e nos concede a graça da salvação: “Se com Cristo morremos, cremos que também com Ele viveremos, sabendo que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais” (Rm 6,8-9). “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,17). Sabemos, pois, que esta salvação “não é uma passagem de um lugar para outro, mas de um modo de viver para outro: do viver para o mundo e segundo o mundo, para viver para o Pai” (Cardeal Cantalamessa). Ou seja, trata-se de passar de uma vida “segundo a carne” para uma vida “segundo o Espírito” (cf. Rm 8,4). E porque Ele nos salvou na carne para vivermos segundo o “Espírito de filhos adotivos”, podemos, “por Cristo, com Cristo e em Cristo”, suplicar e aclamar: “Abbá, Pai!” (cf. Rm 8,15). Portanto, não haveria maneira melhor de expressar a graça da salvação que Jesus Cristo nos mereceu, senão com as palavras do evangelista João: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3,1). Entretanto, é Jesus o verdadeiro Filho de Deus, aquele que “a outros salvou”. É graças à sua obediência filial e submissão à vontade do Pai que, em Cristo, somos salvos ao recebermos o “Espírito de filhos adotivos”. Por que, então, em sua crucifixão, os chefes do povo, os soldados e um dos malfeitores zombavam dele e o tentavam, dizendo: “Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido”? A resposta está nas tentações que Jesus sofreu no deserto, logo no início de seu ministério público. São Lucas relata: “Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se dele até o tempo oportuno” (Lc 4,13). Eis, portanto, o momento oportuno: o suplício do Senhor no madeiro da cruz. Aquele que “a outros salvou” poderia muito bem ter usado o próprio poder divino para “salvar-se a si mesmo”. Mas não o fez. Ainda no Monte das Oliveiras, Jesus orou preparando-se para esse momento, dizendo: “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!” (Lc 22,42), cumprindo, assim, o que acabara de instruir aos seus discípulos: “Orai, para não cairdes em tentação” (Lc 22,40). Jesus foi tentado, por três vezes, por aquele grupo de tentadores aos pés da cruz a usar de seu poder divino em benefício próprio — mas não o fez. Todo o poder que recebeu do Pai foi empregado exclusivamente para a salvação da humanidade, doando sua vida por ela. Portanto, cabe a nós refletirmos: as lideranças religiosas e civis usam o poder que possuem em benefício próprio ou em favor daqueles a quem deveriam servir?