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A Palavra “Que”

luciano-borges - 22 de setembro de 2024

A Palavra “Que”

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais 

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Só não é verbo ou artigo

À sintaxe cabe estruturar palavras em frases e orações. Graças a ela, por exemplo, a palavra “que” ganha versatilidade ao comunicar sentidos. Aliás, o “que”, do ponto de vista morfológico, pode ocupar todas as classes de palavras, exceto as de verbo e artigo. O que equivale a dizer, que essa palavra, se bem-posicionada em uma frase, é capaz de assumir valor de substantivo, pronome, advérbio, inclusive representar uma partícula expletiva.

A palavra “que” apresenta sentido de “alguma coisa”, ou seja, de substantivo, quando é antecedida de determinante. Nesses casos, ela deve sempre ser acentuada graficamente. Como na frase: “Esse casarão tem um quê assustador”. Note, leitor, o acento circunflexo está corretamente empregado, assim como o artigo indefinido “um” colocado antes da palavra. Evidências de um “que” substantivado!

O “que” também pode relacionar duas orações, apresentando-se, portanto, como pronome relativo. Nessa condição, a palavra “que” pode exercer várias funções sintáticas como: sujeito, objeto direto, objeto indireto. É o que se demonstra na frase “Existem pessoas que não se entregam ao ódio”, a palavra “que” desempenha a função sintática de sujeito, pois equivale a “pessoas”. 

“Que” também pode ser advérbio. Isto é, cumprir a função de palavra invariável que modifica um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, exprimindo circunstância de tempo, lugar, modo, dúvida etc. Na expressão “Que belo dia!”, a palavra “que” assume a função de advérbio, porque intensifica o adjetivo belo ao dar ênfase à qualidade do dia.

Por fim, mesmo enfeixando aqui poucos exemplos, mas suficientes, é possível provar que frases se organizam na língua portuguesa de maneira lógica. Há sim uma sintaxe que, com efeito, estrutura elementos mediante regramento e os distribui cada qual em uma posição adequada. É o que acontece com o “que” e com tantas outras palavras que compõem o léxico do Português. Toda essa versatilidade, deve-se, portanto, à sintaxe.

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais