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A polarização do tempo, zeladoria da cidade e a “grávida de Taubaté”

O Diário - 14 de novembro de 2024

A polarização do tempo, zeladoria da cidade e a “grávida de Taubaté”

Danilo Nunes, pós-doutor em Direito. Advogado, professor e membro da Academia Barretense de Cultura

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Faria um bem enorme à Barretos que, antes mesmo da posse em 1° de janeiro de 2025, a vereadora e os vereadores - eleita, eleitos e reeleitos - se reunissem legitimamente não só para negociarem espaços no Executivo, mas, também, para elaboração de projeto de lei ordinária municipal de implantação da Política Municipal de Zeladoria e Mudanças Climáticas de Barretos. Depois, empossados, os edis já podem começar a trabalhar. Primeiro, pois já estarão a receber do erário; e, segundo, em razão deste argumento (trabalho) ter sido a principal força motora de renovação das cadeiras na Câmara Municipal.

Engana-se quem pensa que mudanças climáticas não têm força eleitoral para eleger e para derrubar eleitos. Os eventos climáticos extremos influenciaram as eleições municipais no Rio Grande do Sul, tiveram potencial de definir o segundo turno em São Paulo e criaram grande dores de cabeça para a atual gestão. As tragédias decorrentes destes eventos são, em boa parte, desdobramentos de zeladoria urbana e rural (ou da falta dela!). Em tempos (momento histórico) em que até o tempo (clima) está diametralmente polarizado entre períodos de chuvas e vendavais ou seca com longa estiagem, implantar política efetiva de zeladoria articulada com trabalho da Defesa Civil é pedra de toque para os eleitos.

O prefeito, bem como boa parte dos edis eleitos e reeleitos, tiveram como bandeira um viés liberal nas campanhas. Agora, é a hora de mostrar que – mais importante que ampliar a estrutura administrativa – é importante elaborar e implementar programa de zeladoria em parceria com a sociedade civil. Arrastões e campanhas educativas não bastarão. Os tempos são outros. O compromisso intergeracional é o de sobrevivência das espécies humanas e não humanas. Tudo que é vivo precisa ser preservado com manutenção permanente e cuidadosa para que se evitem catástrofes e mortes decorrentes de tragédias climáticas.

Não se pode falar em bandeira liberal sem equilíbrio entre recurso finito e demandas infinitas, contudo, urgentes. Logo, o zelo com limpeza urbana e rural, conservação de vias e mananciais, podas de arvores coordenadas com a concessionária de energia, descarte e coleta seletiva comprometida com o reuso, implantação de tecnologias no agronegócio e na iniciativa privada, drenagem e captação eficientes de águas superficiais, alertas antecipados com estratégia de prevenção (antecipados mesmo!), isolamento de áreas de risco, financiamento por meio de pagamentos por serviços climáticos são algumas das medidas já previstas em legislação, mas, são exemplos de compromissos que titulares de mandato 2025/2028 podem fortalecer em Barretos. 

Criar órgão desamarrado de programa institucional de implantação de política pública de zeladoria por si só não coaduna com princípios liberais, sob o risco da tal visão liberal se tornar uma falácia como a “grávida de Taubaté”.