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Ainda estamos aqui!

O Diário - 11 de janeiro de 2025

Ainda estamos aqui!

Kleber Aparecido da Silva é professor Associado 3 dos Cursos de Letras e de Relações Internacionais da UnB. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq – 2A

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No último sábado, 04 de janeiro de 2025, uma cidadã brasileira foi vítima de racismo em um renomado e (re)conhecido Clube Recreativo na cidade de Barretos, e ela foi alvo de comentários racistas e violentos que tinham por objetivo inferiorizá-la e humilhá-la por conta do seu pertencimento racial, do seu fenótipo como mulher negra. Ela tomara todas as medidas institucionais jurídicas necessárias, contudo, infelizmente, não foi acolhida e os seus direitos como cidadã (que paga os seus impostos e exerce os seus direitos) não foram reconhecidos, pois infelizmente, no país que estamos inseridos e na cidade que vez por outra pessoas manifestam posturas coloniais, retrógradas e acríticas, muitas vezes se naturalizam crimes como este! Contudo, segundo a Lei 7.716/1989, “racismo” é crime. E lugar de criminosos e criminosas é na cadeia. 

Tais atos e violências que Luayne Lima sofreu (sofre e continuará sofrendo se aqueles que detém o poder não agirem a partir do que é postulado nas leis e princípios constitucionais) não só a feriu, mas feriu toda uma população brasileira negra, uma vez que o racismo antinegro é uma forma sistemática de dominação que tem na raça, na hierarquia sociorracial entre corpos lidos socialmente como negros e brancos o seu fundamento. Por ser estrutural e estruturante das relações sociais, o racismo antinegro não está apenas no nível do preconceito individual no qual um sujeito branco (branquitude), que acredita ser da Europa (já estive na Europa e lá não só tem brancos, tem negros também), a partir de um conjunto de crenças e valores, deprecia, estereotipa, inferioriza e humilha corpos negros. Na verdade, o racismo antinegro encontra-se no tecido social, organizando, estruturando e integrando inescapavelmente a configuração econômica, política, cultural e discursiva de nossa sociedade. Deste modo, enquanto o racismo estrutural, institucional e/ou sistêmico estiver arraigado em nosso imaginário, práticas serão vivenciadas por nós assim como Luayne Lima vivenciou. 

Sendo assim, a meu ver, temos que (re)pensar na (re)construção de um programa educacional antirracista que se respalde na pedagogia da lucidez, na pedagogia do respeito ao próximo, na pedagogia da compaixão e não mais na pedagogia da estupidez!.  Ainda bem que estamos aqui para nos solidarizar e apoiar em palavras e ações a cidadã Luayne Lima. Estamos aqui porque é preciso (re)lembrar que racismo é crime e para que isto nunca mais aconteça. Se hoje podemos contar histórias, e ler/ver as histórias livremente contadas é porque a pedagogia do amor e do respeito ao próximo venceram.  Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: Ainda estamos aqui!.