Ainda sobre a água
karla-armani-medeiros - 17 de setembro de 2024
PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani
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Dias atrás, entrevistei uma senhora que viveu em Barretos em sua infância e mocidade, no período de 1932 a 1951. Entre tantos assuntos, ela me disse uma frase que me arrepiou. Explicou que leu em um livro a definição sobre o que era Barretos naquela época dos anos 30 e 40: “Barretos é o paraíso dos homens, o inferno das mulheres e o cemitério das crianças”. Senti-me mal ao ouvir isso, por óbvio. Mas eu sempre digo que o passado não é um lugar bonito, por isso quase nada me surpreende quando vem de lá.
“Paraíso dos homens” e “inferno das mulheres” são nítidos pelos privilégios masculinos e a falta dos direitos femininos na sociedade patriarcal da época. Porém, a respeito do “cemitério das crianças”, eu indaguei o motivo, apesar de já imaginá-lo. Disse-me ela que era por causa da água de Barretos, que não era tratada e que por isso fazia adoecer e levar a óbito muitas crianças. É claro que a falta do tratamento da água e do saneamento básico não eram realidades só de Barretos, e sim da maioria das cidades; mas no caso do nosso município era algo que chamava a atenção. Infelizmente, no passado, fosse aqui ou em outras cidades, era comum crianças pequenas falecerem de doenças advindas justamente da água e esgotos não tratados. Essa foi uma realidade de muito tempo, até que Barretos iniciou seu sistema de melhor captação e tratamento de água, incluindo mais recentemente a fluoretação, que tanto contribui à saúde bucal.
A questão da água sempre foi muito presente nos debates políticos e sociais da cidade em todas as suas épocas. Todas. Silvestre de Lima, por exemplo, prefeito que, em 1910, ainda de forma precária, trouxe a novidade do abastecimento de água potável aos moradores de Barretos, que antes usavam água de cisternas, sofreu críticas pela oposição política na mesma época. Duras críticas. João Rocha, prefeito em 1964 a 1969, ficou conhecido como João Tatu por abrir canais subterrâneos para a passagem das tubulações de abastecimento de água à população. Em outras épocas, a água continuou a ser assunto.
Uma vez resolvido o problema da qualidade da água, agora sofremos com a falta dela. Estiagem, queimadas, falta de gestão e falta de comunicação tem sido os nossos maiores desafios. Um bem tão abundante, porém sempre tão ameaçado. Uma lástima.
PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC. www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani