Amor oblativo
Diocese de Barretos - 5 de fevereiro de 2025
Amor oblativo
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Por Pe. Flávio Aparecido Pereira, Vigário Paroquial Catedral Barretos
Vinícius de Moraes escreveu em seu Soneto de Fidelidade “De tudo, ao meu amor serei atento/Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto...”, singela e profunda em tais versos é a reflexão acerca da doação ao amor, ao qual não mede esforços para atingir seu intento: agradar a pessoa amada, tendo como meio para isso a atenção, o zelo e outros atributos mais. Definir o amor em palavras não é um ato fácil, embora pareça. Definir o amor em uma pessoa, se torna mais fácil: Jesus Cristo. Ele é o reflexo do coração amoroso do Pai.
O amor oblativo, que se doa intensamente é a forma mais sublime de deixar marcas nas pessoas, pois sair de si para atingir o outro, a fim de evidenciá-lo(a) é uma característica do puro, sincero e verdadeiro amor. Esse amor oblativo não cobra, não carece de atenção e nem de súplicas para ser cuidado, mas é algo natural, por isso marca a vida de quem o vive ou viveu.
Um exemplo do amor oblativo desinteressado é o de Deus pela humanidade, pois nos diz São João (Jo 3, 16) que ‘com efeito, tanto Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna’. Deus quer a salvação de todos e por amor à humanidade, esse amor oblativo é demonstrado na entrega de seu filho.
Diante de tal premissa cabem algumas perguntas: o que estou fazendo como atitude de gratidão por tão grandioso gesto de amor? Se o amor é oblativo e todos devem amar como Deus ama, qual a medida da vivência do amor demonstrado por todos em sua individualidade? Há doação sem cobranças, sem interesses?
Às vezes, demonstrar é mais fácil que falar. Talvez a presença e o carinho são os gestos concretos do amor posto em prática. No entanto outra pergunta diante disso tudo carece de ser feita: você se doaria, até mesmo na morte – e morte de cruz-, para salvar quem ama?
Voltando ao Soneto de Fidelidade, Vinícius diz que será atento ao seu amor; em uma interpretação rasa sobre isso, poderia ser dito que a atenção do(a) amado(a) se volta para a(o) amada(o), a ponto de excluir de sua volta tudo aquilo que por ele(a) não é amado, pois seu foco e objetivo é apenas um.
Em Deus há a atenção voltada para todos, uma vez que Ele zela, cuida, protege, ampara e quer que a salvação seja um objetivo alcançado por todos; seu amor é desinteressado, não cobra, não julga, não condena. No entanto, ao olhar para o amor de Deus, vê-se que amar significa renunciar! O que eu renuncio para amar sem medidas?