Despretensiosamente, me vi debruçada sobre um mapa atual do território urbano e rural de Barretos. Ele me apresentou os núcleos urbanos, distritos, povoados e as dezenas de estradas que rasgam o 7º município de maior extensão territorial de São Paulo. Tantos números e cruzamentos parecem nos revelar verdadeiras equações matemáticas, onde a precisão dos cálculos é matéria prima para a cartografia. Interessante é que se tivéssemos que denominar a forma geométrica dos contornos de Barretos certamente seria um quadrado, mas quando observamos as fronteiras hidrográficas do município, vemos um triângulo. Isso porque os rios que cercam o nosso território são o Grande, ao norte, o Pardo, ao leste, e o Turvo ao sudoeste. E são pelos rios que nascem as nossas origens.

Essa matemática é, então, ressignificada aos olhos da História. E isso tem explicação. Afinal, para se chegar nos mapas de hoje, atualizados por tecnologias mais precisas, fica a dúvida: de onde vieram os primeiros contornos de Barretos? E eu vos respondo com tranquilidade: das mãos de um padre; de sua pena trêmula.

Desconheço qual foi o primeiro trabalho cartográfico de Barretos, mas sei que as primeiras divisas foram estabelecidas pela Igreja após o arraial dos Barretos se tornar freguesia em 1874. Era necessário delimitar os limites da freguesia dentro do imenso território preenchido pelas matas, grandes fazendas e pequenos núcleos. Em 1880, o segundo padre de Barretos, o italiano Francisco Valente, escreve no primeiro livro de tombo da matriz de Barretos as divisas da freguesia de acordo com o que lhe foi passado por uma testemunha oral. Ali, ele detalha os limites do território tendo como referências as cabeceiras dos córregos e o curso dos rios, sempre os três rios: Grande, Pardo e Turvo. O nosso triângulo. Hoje, são nossos vizinhos os municípios de Colômbia, Guaraci, Olímpia, Severínia, Colina, Jaborandi e Guaíra, com exceção desse último, todos eram territórios de Barretos. À época do padre, a divisa dava-se com as fronteiras de São José do Rio Preto. Calcula agora, caro leitor, a imensidão do território do pequeno arraial dos Barretos? Aos olhos da História, qualquer mapa atual será pequeno perto da vastidão descrita nas linhas deixadas pela pena do padre.