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Boi Soberano

karla-armani-medeiros - 7 de maio de 2024

Boi Soberano

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani

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Barretos completa 170 anos em 2024, e a canção “Boi Soberano”, que tanto projetou a cidade, atinge seus 70 anos. Em 1954, enquanto Barretos comemorava seu primeiro centenário, a canção “Boi Soberano” estava sendo composta por Adauto Ezequiel (Carreirinho), Pedro Lopes de Oliveira e Izaltino Gonçalves de Paula. Foram nas vozes da dupla Carreiro e Carreirinho que a canção se apresentou e destacou Barretos. 

Originalmente escrita no dialeto caipira, a canção poetiza o relato de um velho boiadeiro recordando-se de quando veio a Barretos e presenciou um estouro de boiada. A música, embalada pela moda de viola, revela uma estória de suspense, visto que o “boi Soberano”, de “criminoso”, termina a saga como herói em razão de ter salvado um menino que brincava na rua, pondo-se à frente para blindá-lo do estouro. O desfecho, surpreendente, é quando o pai da criança decide comprá-lo para que não fosse abatido. 

A cidade de Barretos, em razão de ser referência na pecuária e destino das boiadas, é citada na canção e por isso criou-se a hipótese de que a narrativa da música fosse real (já que tudo faria sentido). Embora os estouros de boiadas acontecessem de fato no passado, a estória do boi Soberano em específico é fictícia. Recentemente, em declaração para o jornal riopretense “Diário da Região”, um dos compositores, Izaltino Gonçalves de Paula, foi muito claro: “Não é real, nenhum compositor gosta de escrever coisas reais. É igual contar piada que todo mundo conhece. Quem vai comprar o disco por causa daquilo? Eu criei a história”. Antes de Soberano, ele cogitou chamar o boi de Cigano, Minuano e até Tucano. O heroico animal é mesmo um personagem.

No entanto, sempre escutamos estórias de barretenses dizendo “o menino da boiada era fulano...” - um tio, avô ou parente. “O estouro foi na praça central...” ou “na Frade Monte, corredor boiadeiro”, etc. Há de se considerar que eram reais os acidentes, inclusive com crianças, eu mesma já entrevistei pessoas que contaram sobre esses estouros. Mas, a história da música em si é ficção, como confirma o seu autor. Por outro lado, pelo contexto histórico de Barretos, ela foi integrada ao nosso imaginário popular. O importante é deixar tudo isso claro: a história é fictícia, o contexto é real. 

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com