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Conhecendo melhor sobre a Melancolia

luis.martins - 8 de dezembro de 2024

Otávio da Silva Sousa, estudante do 2° período do curso de medicina da FACISB, orientado pela professora Luciana Areias Surian

Otávio da Silva Sousa, estudante do 2° período do curso de medicina da FACISB, orientado pela professora Luciana Areias Surian

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A melancolia, um estado psíquico complexo e multifacetado, possui raízes profundas tanto na medicina antiga quanto na filosofia e na arte. Originalmente, no século IV a.C., Aristóteles associava a melancolia a uma condição peculiar de indivíduos criativos e excepcionais, como poetas e filósofos. Ele a vinculava ao "imaginário", sugerindo que a melancolia poderia ser uma fonte de inspiração. A tradição médica grega também contribuiu para essa visão, com Hipócrates descrevendo o estado melancólico como um desequilíbrio do "humor negro", relacionado a um excesso de bilis. Ao longo dos séculos, o conceito foi se transformando, com o Renascimento associando a melancolia a uma disposição para a reflexão filosófica e artística.

No entanto, a compreensão psicanalítica da melancolia, proposta por Sigmund Freud, leva a análise a um nível mais profundo, diferenciando-a da tristeza comum. Para Freud, a melancolia resulta de uma perda de um "objeto" idealizado, que nunca foi concretamente possuído. O sujeito melancólico se vê preso a esse objeto perdido, e sua libido se volta contra ele próprio, gerando um processo de introjeção e autodesprezo. Esse movimento, descrito como uma "neurose narcísica" culmina em uma crise de identidade e na perda do interesse pelo mundo exterior. Assim, a melancolia envolve uma distorção da realidade, em que o indivíduo se afasta do presente e se perde na idealização do que nunca teve.

A arte, em suas diversas manifestações, sempre foi um veículo poderoso para expressar a melancolia. Pinturas, músicas, filmes e poesias frequentemente capturam a tensão entre o sofrimento e a beleza desse estado emocional. A pintura renascentista, por exemplo, retratava a melancolia como uma reflexão filosófica, enquanto obras como "Melancolia I", de Albrecht Dürer, sugeriam que esse estado poderia ser simultaneamente um fardo e uma fonte de inspiração. Assim, a melancolia se apresenta não apenas como uma expressão de dor, mas também como uma busca por um entendimento mais profundo da condição humana.

Na contemporaneidade, o conceito de melancolia transcendeu suas origens clínicas e filosóficas, sendo frequentemente associado à nostalgia e à reflexão sobre o passado. Embora a melancolia tenha sido inicialmente ligada a distúrbios emocionais graves, como a depressão profunda, ela hoje é compreendida de forma mais ampla, sendo vista como uma experiência emocional complexa que mistura tristeza, beleza e uma busca por sentido. Ao longo do tempo, a melancolia se tornou um tema central na cultura, especialmente na arte, onde continua a inspirar reflexões sobre a condição humana, a perda e a busca por um significado além da dor.

Otávio da Silva Sousa, estudante do 2° período do curso de  medicina da FACISB, orientado pela professora Luciana Areias Surian.