Bola de plástico cruza a rua de terra. Bicuda de tênis Kichute preto. Fordinho 29 freia. Levanta a poeira. Motorista de terno de linho branco sai empoeirado xingando a molecada. Ajeita a cartola, enrola o bigode, apeia no banco de couro e acelera mal humorado. A cena se repete há séculos.  A diferença é que hoje os veículos são elétricos e até autônomos. A Avenida é o Centro de Treinamento e Arena para grandes disputas futebolísticas. Quintal de brincar.  Mamona passa zunindo em direção ao pombo alvo. Estilingue de precisão. Bang bang nas esquinas. Cavalaria Americana versus índios Sioux. Rifles e machados de cabo de vassoura. Terras da Vila Baroni. Quadrilhas de meninos descalços nas calçadas. Cadeiras espalhadas para conversas dos mais velhos. Fumaça de trempe debaixo de eucaliptos. Queima do Alho na frente do Recinto. Ponto de pouso de aeromodelismo artesanal no campo abandonado do Fortaleza F. C. Sede dos jogos de várzea. Buracão, terreno misterioso. Lendas urbanas de periferia. Técnica apurada de rodar Pião de madeira. Torneio de perícia e técnica presencial. Muito antes do mundo digital. TV em preto e branco. Bombril na antena, filtro para sintonizar poucos canais. Tabuleiro de concreto. Jogo de damas na praça. Domingos de trocar gibis no Cine Barretos. Pipoca úmida de molho de vinagre. Pão de venda de carrocinha. Radinho de pilha em cima do fogão a lenha. Música sertaneja Raiz acordando corpos antes do nascer do sol. Missa na Catedral fechando final de semana. Confraria dos meninos que correm atrás do vento. Minha Infância criativa. Feliz dia da Criança que existe em cada um. Abraços cavalares

Marcelo Murta