Dano irreparável: o museu grita por socorro
O Diário - 11 de fevereiro de 2025
![PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani Dano irreparável: o museu grita por socorro](https://s3.us-east-1.wasabisys.com/odiario/2024/12/Karla-Armani-234x350.jpg)
PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani
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Me lembro como se fosse hoje de quando estagiei no Museu “Ruy Menezes”, era o ano de 2007. Entre tanto entusiasmo, lembro-me bem do “outro lado”: a minha decepção em conhecer histórias trágicas como o roubo de jornais e a lástima da perda das cisalhas de Osório Rocha. Explico. Chamamos de “cisalhas” um conjunto de textos datilografados e encadernados pelo memorialista onde constavam datas e personagens de Barretos. Uma fonte preciosíssima! Eis que parte das cisalhas foi destruída por água de chuva que entrou no museu. À época, nada estava digitalizado; um dano irreparável.
A falta de segurança e de manutenção do prédio sempre colocou em risco a preservação das fontes, por isso é necessária a zeladoria do museu constantemente. Troca de telhas, pintura, manutenção de forro, piso e de materiais anti-incêndios são obrigações da prefeitura fazer com recursos próprios. E claro, o dever de casa: ter funcionário de limpeza (infelizmente o museu não é limpo de forma adequada há anos). Por outro lado, para projetos maiores como restauro e aquisição de equipamentos tecnológicos para pesquisa e expografia são necessárias verbas das esferas estaduais e federais. Cobrando tudo isso e me dispondo a ajudar, passei anos só ouvindo que é “preciso ter projeto para restaurar o museu”. Porém, a prefeitura nem fazia projeto e nem a lição de casa. E o resultado foi o abandono. Contudo, uma luz no fim do túnel surgiu com a verba da emenda impositiva garantida pelo vereador Chafei Amsei para este ano, único que se sensibilizou pela causa e a quem sou muito grata. Com essa verba a prefeitura fará as reformas iniciais, aquilo que se ela tivesse feito mês a mês não precisaria gastar em alta quantia.
A população paga imposto para tudo, inclusive para cultura. Por isso, uma ínfima parte do tesouro público deve SIM ser usada como zeladoria ao prédio do museu. (Sem contar que é um ultraje da prefeitura abandonar o prédio que foi sua primeira casa!). Para projetos maiores, recursos de leis de incentivo; para o básico (limpeza e segurança), recursos próprios. Caso contrário, a situação será sempre de abandono e o dano irreparável. As cisalhas de Osório não voltam mais. E fico a pensar: será possível que em pleno 2025 ainda perderemos ricas fontes para goteiras? Me recuso a acreditar.