Este é o reino que queremos
Diocese de Barretos - 12 de novembro de 2024
Este é o reino que queremos
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(Por: Cardeal Gianfranco Ravasi)
Vamos estudar uma palavra muito importante no Novo Testamento: basileia, “reino”, presente 162 vezes, à qual se associa espontaneamente basileus, “rei”, citada 115 vezes, a partir da menção de Davi, que aparece na genealogia de Jesus (Mt 1,6). Quando o próprio Jesus dá início ao seu ministério público na Galileia, as primeiras palavras que pronuncia são: “Cumpriu-se o tempo, e está próximo o Reino de Deus. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15); “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo (Mt 4,17). Ecoa nas palavras de Jesus a mesma palavra pronunciada pelo Precursor, João Batista (Mt 3,2).
O centro do anúncio cristão rodará justamente em torno deste símbolo que já tinha sido adotado no Antigo Testamento no seu duplo significado: significado ativo de “governo e senhorio divino”, e significado passivo de povo (ou da terra) governada com justiça pelo Senhor. Naturalmente, a imagem tinha sido tirada das civilizações do antigo Oriente Próximo e da própria experiência de Israel, que tinha escolhido o sistema monárquico por volta do século XI a.C. Aliás, a dinastia davídica tinha sido considerada como o caminho histórico para o messianismo.
Ora, o conceito de “reino de Deus” (“reino dos céus” é uma forma cara a Mateus para evitar, segundo o estilo judaico, o uso do nome divino, sagrado e impronunciável) quer indicar sobretudo o projeto de uma sociedade justa, de uma criação harmônica, concebida e querida por Deus. Um projeto infelizmente prejudicado e devastado pelo pecado humano. Os Salmos que cantam o reino de Deus (47; 93; 96-99) exaltam a intervenção do Senhor/Rei para dar origem àquele “reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz” que é justamente celebrado não só como esperança, mas também como presença na história através do anúncio evangélico.
Sim, porque Jesus não só proclama a inauguração do reino de Deus nas suas parábolas e na sua obra salvífica, mas ele próprio é definido como rei na grandiosa cena do juízo final, esboçada e descrita por Mateus 25,31.34. Ele é o basileu grego, o soberano que exerce o mesmo papel que era de Deus no Antigo Testamento: “O Senhor vem para julgar a terra; julgará o mundo com justiça e com verdade todos os povos... porque justiça e direito são a base do seu trono” (Sl 96,13; 97,2; 98,9).
Quanto seu governo seja diferente do governo dos soberanos deste mundo, Jesus o declara explicitamente ao representante do poder imperial romano, o procurador Pôncio Pilatos, numa página extraordinária do Evangelho de João: “O meu reino não é deste mundo... Eu sou rei... para dar testemunho da verdade (Jo 18,33-37). Cristo é, portanto, um rei que não se comporta como “os reis das nações que dominam e se fazem chamar benfeitores” (Lc 22,25).
“Venha a nós o vosso reino!”