“Eu não consigo respirar”!
O Diário - 5 de fevereiro de 2025
Kleber Aparecido da Silva é Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e em Linguística na Universidade de Brasília. Foi Visiting Scholar em Stanford University, Penn State University e CUNY Graduate Center, em New York. É Bolsista em Produtividade em Pesquisa pelo CNPq
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O quadro “Quem quer ser um milionário”, exibido no Programa do Domingão do Huck, da Rede Globo de Televisão, teve uma pergunta para um candidato/participante responder. De certa forma, a produção do referido programa achou que seria de bom tom colocar no formato de uma resposta a última frase dita pelo nosso irmão George Floyd, homem negro morto depois de um policial branco, Dereck Chauvin, colocar o joelho no pescoço de Floyd por quase nove minutos enquanto ele permanecia deitado no chão.
“I can’t breath!”. Ou seja “Eu não consigo respirar”, se tornou um grito que foi, tem sido e é ecoado em diversos manifestações e/ou protestos nos EUA e no mundo contra os racismos e a violência policial. Glenda Melo, pesquisadora e ativista da PUC-RJ, fez alguns perguntas em sua conta no instagram e eu gostaria de compartilhar aqui: “Até quando as nossas dores não serão respeitadas? Até quando teremos essas equipes que não conseguem ter um olhar crítico e racializado com o que acontece? Até quando vão continuar nos matando?”. A meu ver, a morte de um homem negro jamais poderia servir como entretenimento. Além de sádico, é cruel; e mostra que as nossas dores não servem para absolutamente nada. Não basta ser antirracista na teoria, é preciso ser na prática conforme já dizia Angela Davis.
E a pergunta que fica é: até quando? A resposta é óbvia. Até que as emissoras (re)construam equipes realmente diversas (em gêneros, raças/etnias, classes social, etc) e com formação educacional sólida e não gasosa; e que os profissionais que atuam na mídia televisiva possam perceber, a partir das lentes das criticidade, que há racismos (estrutural, sistêmico, estético, linguístico, etc) no Brasil e que estes deve ser desconstruídos e abolidos. E se formos “racistas”, que possamos assumir uma nova identidade: sermos racistas em desconstrução!.