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Filha

O Diário - 6 de abril de 2025

Filha

Rogério Ferreira da Silva é cirurgião-dentista

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Me lembro como se fosse ontem o dia em que minha esposa entrou em meu consultório com a notícia de que estava grávida. E agora, no dia de hoje, minha filha completa 15 anos. Me lembro também de comprar fraldas, às vezes no meio da noite, cheio de sono e cansaço, filha pequena que não parava de chorar. No corredor de fraldas do mercado, ouvia o som ambiente tocar Você é Linda, do Caetano Veloso, e olhando as prateleiras cheias de cores com embalagens vermelhas, azuis, amarelas e brancas, todas com bebês sorridentes me lembrei do poema que eu havia feito para ela e que minha esposa havia colocado em um quadro. Minha filha era “uma onda do mar, do amor que bateu em mim” e que pro resto da vida eu teria uma menininha pra cuidar e querendo que ela sempre saiba que eu estou aqui por ela, que “essa canção é só para dizer e diz”. Refletida naquelas embalagens de fraldas vi minha filha crescer. Passou do RN para o P, para o M e para o G. Depois de meses ele deixou de ser pequena, deu adeus às fraldas, começou a falar com a “Ba”, a caminhar, a pedir dinheiro para o lanche da escola, a viajar para a praia sozinha com a amiga. A paternidade é essa terapia, essa chance de aprender que o homem também chora, sente, intui, se arrepende, diz que ama, diz me desculpa, alguém me ajude – mesmo que improvável, mas possível. Na paternidade a gente tem a chance de mudar pelo amor. O tempo vai passando e a gente vai tendo nosso amor correspondido com risadas, com cartinhas mal desenhadas onde se pode ler que a gente “é o melhor pai do mundo”. Vemos o brilho em seus olhos e esse é o nosso pagamento. Cada centímetro que crescem vai sendo anotado na parede do quarto e nos mostra que eles estão indo embora. Talvez nosso papel como pai seja se tornar obsoleto, desaparecer da vida dos filhos com o passar do tempo já que a vida é sempre uma despedida. Já se foram 15 anos. Como escreve o poeta, filhos são flechas e os pais arcos que se envergam para eles chegarem o mais longe possível. Às vezes essa despedida da criança que vai se tornando adulta dói, e a gente sente mais cada vez que fazem algo sozinhos. A gente fica carente porque sabe que um dia ela nos “deixa na rua deserta, quando atravessa e não olha pra trás”. Feliz aniversário filha. Papai te ama! Um bom domingo para você.