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História de família

karla-armani-medeiros - 7 de janeiro de 2025

História de família

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani

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Desde que nascemos, um vínculo natural e oficial nos une ao passado e nós o carregamos por toda a vida: o sobrenome. É ele quem nos une às gerações passadas. Somos descendentes de 2 pais, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós, 32 tetravós e assim por diante, e quando imaginamos essa conta infinita podemos visualizá-la por meio de uma frondosa árvore genealógica.

As árvores são sempre usadas como figuras que inundam a mente humana, a literatura e a mitologia com reflexões sobre a fertilidade, a continuidade e a própria vida. Numa árvore genealógica, junto aos nomes, datas, lugares e relações, vem as origens, aventuras, curiosidades, revelações e mistérios. São essas histórias que dão vida à árvore, sustentam lendas, preenchem lacunas, reforçam laços, apagam amarguras, justificam medos e solidificam a família.

            A oralidade sempre foi o meio de se contar essas histórias de família, seja pela mãe que conta histórias aos filhos antes de dormir ou aquele avô que narra suas memórias numa pescaria qualquer. E, por mais que existam os livros, as telas ou outros meios, é a boa e velha conversa a principal forma de se perpetuar essas memórias. (Já experimentou fazer perguntas sobre o passado a uma tia avó num almoço de domingo? Garanto que todos os primos se sentarão em volta e, segurando o queixo, escutarão de ouvidos e olhos bem abertos. Ficarão boquiabertos).

Quando temos curiosidade e paciência em ouvir essas histórias, vem à tona um mar de memórias, lendas e realidades. Toda família “tem” uma avó índia pega no laço, um imigrante que atravessou os mares, um trabalhador da roça, uma professora que andava a cavalo para ensinar crianças em fazendas e um soldado que já serviu em alguma guerra. Tem histórias simples da vida no campo, do doce de leite fresco, do carinho de uma mãe de doze filhos, do namoro iniciado na fonte da praça, mas também tem histórias tristes de casamentos arranjados, alcoolismo, abandono de pais, cidadania negada, terras roubadas, brigas de famílias e mortes por carabina.

Sejam lindas ou tristes, as histórias de famílias dão sentido à genética (ou a desafiam), ao sotaque, às habilidades, à mentalidade e até à rebeldia. São elas que nos mostram de onde viemos, independente de termos orgulho delas ou não. É preciso ouvi-las e passarmos à diante, afinal somos nós quem as tiramos do passado e as projetamos ao futuro; à árvore da vida.