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Junho Violeta: alerta sobre os riscos do Ceratocone

O Diário - 30 de junho de 2024

Junho Violeta: alerta sobre os riscos do Ceratocone

Oftalmologista dr. Fernando Heimbeck especialista em oftalmologia pelo Willis Eye Hospital, no Estados Unidos, é orientador da Liga Acadêmica de Oftalmologia

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Dr. Fernando Heimbeck conscientiza sobre importância desta campanha 

O médico Fernando Marco Heimbeck, coordenador da Liga Acadêmica de Oftalmologia (LAOF) da FACISB, conscientiza a população da importância da campanha de esclarecimento sobre o Ceratocone, através da ação especial denominada Junho Violeta. Na entrevista a seguir, o oftalmologista destaca os principais aspectos sobre o tema. 

O DIÁRIO: O que é a campanha Junho Violeta? 

DR. FERNANDO: Junho Violeta é uma campanha destinada a conscientizar a população sobre o ceratocone e a prevenção dessa condição. O objetivo é orientar e educar sobre os riscos do ato de coçar, esfregar ou exercer pressão sobre os olhos, ações que podem levar ao desenvolvimento do ceratocone.

O ceratocone é uma doença caracterizada pelo afinamento e deformação da córnea, estrutura do olho que, em vez de manter sua forma arredondada, se torna semelhante a um cone, originando o nome da doença. A córnea é uma camada transparente que ajuda a direcionar os raios de luz para a retina, onde a imagem é formada. Com a deformação da córnea, a luz é distorcida ao entrar no olho, comprometendo a visão. A doença geralmente começa na infância ou adolescência e pode progredir até os 35 ou 40 anos, afetando ambos os olhos, embora de forma assimétrica, com um olho sendo mais impactado que o outro.

O DIÁRIO: O que causa o Ceratocone? 

DR. FERNANDO: O ceratocone tem origem principalmente genética, mas alguns comportamentos podem agravar a condição. Entre eles estão o hábito de coçar os olhos, aplicar pressão sobre os olhos durante o sono e ter alergias oculares que aumentam a vontade de coçar, elevando assim o risco de desenvolvimento da doença, complementa o especialista. 

O DIÁRIO: Quais são os principais sintomas que as pessoas precisam ficar atentas? 

DR. FERNANDO: No início, o ceratocone é difícil de detectar e só pode ser identificado através de exames. À medida que a doença avança, surgem sintomas como visão embaçada e distorcida, piora da visão noturna com a presença de reflexos luminosos (efeito “glare”), mudanças frequentes na prescrição dos óculos e aparecimento de astigmatismo. Em estágios mais avançados, pode ocorrer uma perda mais significativa da visão.

O DIÁRIO: E como é feito o diagnóstico desta doença?   

DR. FERNANDO: O diagnóstico do ceratocone começa com a história clínica do paciente (suspeitando-se de ceratocone em pacientes cujas prescrições de óculos mudam frequentemente e que apresentam baixa visão mesmo com o uso de óculos) e exames de imagem. Antigamente, os únicos exames disponíveis eram a ceratometria e a ceratoscopia, que medem a curvatura da córnea e o tipo de astigmatismo. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, um dos exames mais precisos para o diagnóstico precoce do ceratocone é a Tomografia de Córnea (PentacamR). É extremamente importante que o diagnóstico seja realizado por um oftalmologista especialista, pois quanto mais cedo for feito, melhor será a resposta ao tratamento.

O DIÁRIO: Qual o tratamento do ceratocone? 

DR. FERNANDO: A escolha do tratamento ideal para o ceratocone depende do estágio da doença e das características observadas pelo oftalmologista.

Em casos leves e moderados, o uso de óculos e lentes de contato é recomendado, sendo as lentes de contato mais eficazes por corrigirem diretamente as irregularidades na córnea, melhorando a acuidade visual.

Se o paciente não se adapta mais às lentes de contato corneanas devido ao avanço do ceratocone, opções como os anéis intraestromais corneanos (Keraring, Anel de Ferrara) e as novas lentes de contato esclerais podem ser usadas em casos específicos. As lentes de contato esclerais são um grande avanço no tratamento do ceratocone, proporcionando uma visão excelente para pacientes que não enxergam bem há anos, mesmo em estágios avançados da doença. Além disso, são extremamente confortáveis, ao contrário das lentes de contato rígidas corneanas, que frequentemente causam desconforto.

Para os casos em evolução, recomenda-se o Crosslinking da córnea, um procedimento cirúrgico moderno e minimamente invasivo. Este procedimento envolve a “raspagem” da córnea, aplicação de colírio de riboflavina e exposição do olho a um feixe de luz ultravioleta, fortalecendo as fibras colágenas da córnea, estabilizando-a e impedindo a progressão do ceratocone em mais de 90% dos casos.

Nos casos mais severos, onde há perda significativa da acuidade visual e danos graves ao tecido corneano, o tratamento indicado é o transplante de córnea. Este pode ser realizado de forma penetrante (remoção de toda a espessura da córnea) ou lamelar (remoção de algumas camadas da córnea).

O DIÁRIO: Qual a recomendação para prevenir o ceratocone? 

DR. FERNANDO: Sabe-se que o ceratocone está relacionado ao hábito crônico de coçar os olhos. Portanto, prevenir a doença pode ser feito evitando essa prática. No entanto, é crucial realizar um acompanhamento oftalmológico para avaliação, especialmente em crianças e adolescentes com alergia sistêmica. Após orientação médica, pode ser necessário o uso de colírios antialérgicos e lubrificantes para evitar coçar os olhos e, assim, prevenir o surgimento da patologia.

É essencial obter um diagnóstico precoce feito por um oftalmologista especialista em córnea e ceratocone para reduzir a progressão da doença. Um acompanhamento regular com o oftalmologista, especialmente em crianças e adolescentes ou em casos de ceratocone na família, pode contribuir para a prevenção e o diagnóstico precoce da doença.