Recentemente os barretenses foram surpreendidos por uma contundente manifestação da classe professoral, que sofrera, de forma abrupta e precipitada, um corte de 15% no salário. Para além dos meandros técnicos e do juridiquês que têm marcado o debate sobre o tema, gostaria de chamar a atenção para a força da mobilização das professoras, que lotaram a plenária da câmara em duas manifestações cruciais, pressionando os vereadores a se posicionarem em relação a atitude tomada pelo executivo. A pressão surtiu efeito, pois os parlamentares que se manifestaram, apesar de suas divergências acerca da legitimidade ou temporalidade do corte, consideraram justa a indignação das educadoras. 

Naquela ocasião, o vereador Adilson Ventura, proferiu um acertado diagnóstico acerca do assunto, quando disse: “[...] nós fomos pegos de surpresa; nós não esperávamos que a prefeita fosse tomar essa decisão [...] a avaliação que eu faço, diante desse contexto e dessa precipitação, é a de que isso foi utilizado como pretexto em virtude de não ter recursos no caixa para o pagamento dos servidores [...]”. Desta forma, o professor evidenciou a escolha política da prefeita acerca dos gastos públicos, e finalizou: “[...] o percurso a caminhar é político e ele também é jurídico. Os dois vão ter que caminhar juntos [...]”. Sem negligenciar a importância da política de gabinete ou das assessorias jurídicas, o que este episódio nos oferece de lição é a necessidade de um outro tipo de política: a do povo organizado. É ela, inclusive, que move a política institucional na direção da defesa dos direitos dos trabalhadores. Por exemplo, neste mesmo período, uma outra mobilização popular ganhou amplitude nacional e moveu a política institucional na direção da ampliação de direitos. Com muita mobilização popular nas redes e nas ruas, o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) conseguiu angariar as assinaturas necessárias para fazer tramitar no Congresso Nacional uma PEC visando reduzir a extenuante jornada de trabalho que atinge milhares de pessoas vinculadas à escala 6x1. Guardadas as devidas proporções entre o caso local e o nacional, entre a situação defensiva e ofensiva, ambas têm a mesma virtude: mover a política a partir do poder popular!  

Priscila Ventura Trucullo é professora de história da rede pública estadual.

@pritrucullo