Não basta não praticar o mal
Diocese de Barretos - 16 de outubro de 2024
Não basta não praticar o mal
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(Por: Papa Francisco)
No início da Bíblia lê-se aquela frase terrível que saiu dos lábios do primeiro homicida, Caim, depois de o Senhor lhe ter perguntado onde está o seu irmão. Caim respondeu: «Não sei! Sou, porventura, eu, o guarda do meu irmão?» (Gn 4,9). [1] Assim falam os assassinos: “Não me diz respeito”, “são problemas teus”, e outras frases semelhantes. Procuremos responder a esta pergunta: somos nós os guardas dos nossos irmãos? Sim, somos! Somos guardas uns dos outros! E este é o caminho da vida, é a vereda do não-assassínio.
A vida humana precisa de amor. E qual é o amor autêntico? É aquele que Cristo nos mostrou, ou seja, a misericórdia. O amor ao qual não podemos renunciar é aquele que perdoa, que acolhe quem nos fez mal. Nenhum de nós pode sobreviver sem misericórdia; todos temos necessidade do perdão. Portanto, se matar significa destruir, suprimir, eliminar alguém, então não matar quer dizer cuidar, valorizar, incluir. E também perdoar.
Ninguém se pode iludir, pensando: “Estou tranquilo, pois não faço nada de mal”. Um mineral ou uma planta têm este tipo de existência, mas um homem não. Uma pessoa – um homem ou uma mulher – não! Exige-se mais de um homem ou de uma mulher. Há o bem a fazer, preparado para cada um de nós, cada qual o seu, que nos torna nós mesmos até ao fundo. “Não matarás” é um apelo ao amor e à misericórdia, é uma chamada a viver segundo o Senhor Jesus, que deu a vida por nós, e por nós ressuscitou. Certa vez repetimos todos juntos, aqui na Praça, uma frase dum Santo sobre isto. Talvez nos ajude: “Não praticar o mal é algo bom. Mas não praticar o bem não é bom”. Devemos praticar sempre o bem. Ir além!
Ele, o Senhor que, encarnando-se, santificou a nossa existência; Ele que, com o seu sangue, a tornou inestimável; Ele, «o Autor da vida» (At 3, 15), graças ao qual cada pessoa é um dom do Pai. N’Ele, no seu amor mais forte do que a morte, e pelo poder do Espírito que o Pai nos confere, podemos acolher a Palavra «Não matarás» como o apelo mais importante e essencial: ou seja, não matarás significa um apelo ao amor (Catequeses do Papa, outubro 2018).
[1] Cf. Catecismo da Igreja Católica, 2.259: «A Sagrada Escritura, na narrativa da morte de Abel por parte do seu irmão Caim, revela, desde os primórdios da história humana, a presença no homem da cólera e da inveja, consequências do pecado original. O homem tornou-se inimigo do seu semelhante. Deus denuncia a perversidade deste fratricídio: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra por mim. No futuro, serás maldito sobre a terra, que abriu a sua boca para beber, da tua mão, o sangue do teu irmão” (Gn 4, 10-11).