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O dia da diversidade indígena

O Diário - 21 de abril de 2022

O dia da diversidade indígena

O dia da diversidade indígena

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19 de abril, "dia do índio". Lembro-me como se fosse ontem deste dia na pré-escola, das duas tiras de tinta pintadas no rosto, que faziam retorcer a minha pele, de pintar cada pedaço de macarrão "padre nosso" para confeccionar os colares, do cocar recortado em cartolina e afixado na cabeça. A professora desenhava na lousa a oca, naquele típico formato triangular, um arco e flecha e um peixe para simbolizar o modo de vida do índio, aquele personagem do passado que vivia nas matas e protegia as florestas. Era motivo de grande alegria dançar em roda, ao som de "brincar de índio" da Xuxa, fazendo supostos "barulhos de índio" com a mão na boca.

 


Essa imagem, apesar de nostálgica, reforça estereótipos ao indígena e o coloca em um lugar de objeto folclórico. A palavra índio e seu dia comemorativo remetem a uma caricatura afixada no passado, romantizada e/ou carregada de preconceitos, apesar de sua aparente intenção de homenagem. Esta é a conclusão do líder indígena, pesquisador e escritor, Daniel Munduruku. Daniel propõe que o "dia do índio" seja substituído pelo "dia da diversidade indígena", e promova, nas escolas, um dia de reflexão acerca das várias etnias indígenas, suas culturas, histórias e seu vívido presente. Para o educador também é necessário desfazer essa ideia de que os povos originários devem integrar-se à "civilização", porque "todos somos brasileiros". Na prática, isso reforça 500 anos de aculturação e tenta esconder o interesse econômico colonialista de apropriação e exploração dos territórios. Isso não significa negar a brasilidade aos indígenas, ao contrário, intenta denotar a diversidade da cultura brasileira. Munduruku também explica que a palavra indígena "quer dizer originário, aquele que está aqui antes dos outros" e que é preciso conhecer e valorizar as identidades dos diversos povos. Além desse processo educativo e cultural, é importante entender que para preservar o modo de vida indígena, ou seja, sua própria existência, é preciso fazer valer seus direitos constitucionais, ouvir e respeitar suas lideranças, além de rechaçar as investidas predatórias aos seus territórios.