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O diabo entra pelos bolsos

Diocese de Barretos - 19 de novembro de 2024

O diabo entra pelos bolsos

O diabo entra pelos bolsos

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(Por: Papa Francisco)

Se há fome na terra, não é porque falta alimento! Ao contrário, devido às exigências do mercado, às vezes chega-se a destruí-lo, a deitá-lo fora. O que falta é um empresariado livre e clarividente, que garanta uma produção adequada, e uma abordagem solidária, que garanta uma distribuição equitativa. O Catecismo diz ainda: «Quem usa esses bens, não deve considerar as coisas exteriores, que legitimamente possui, só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mesmo, mas também aos outros» (§ 2404). Para ser boa, toda a riqueza deve ter uma dimensão social.

É nesta perspectiva que se revela o significado positivo e amplo do mandamento «não roubarás». «A propriedade de um bem faz do seu detentor um administrador da Providência» (ibid.). Ninguém é senhor absoluto dos bens: é um administrador dos bens. A posse é uma responsabilidade: “Mas eu sou rico de tudo...” — esta é uma responsabilidade que tens. E cada bem subtraído à lógica da Providência de Deus é atraiçoado, é traído no seu sentido mais profundo. O que realmente possuo é aquilo que sei doar. Esta é a medida para avaliar como consigo gerir as riquezas, se bem ou mal; esta palavra é importante: o que realmente possuo é aquilo que sei doar. Se eu souber doar, se for aberto, então sou rico não apenas daquilo que possuo, mas também em generosidade, generosidade inclusive como dever de distribuir a riqueza, a fim de que todos beneficiem dela. Com efeito, se não consigo doar algo é porque o bem que possuo tem poder sobre mim e sou escravo dele. A posse dos bens constitui uma ocasião para os multiplicar com criatividade e utilizá-los com generosidade, e assim crescer em caridade e liberdade. 

Mesmo sendo Deus, o próprio Cristo «não considerou como uma usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo» (Fl 2,6-7), enriquecendo-nos com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9).

Enquanto a humanidade fadiga para ter mais, Deus redime-a tornando-se pobre: aquele Homem Crucificado pagou por todos um resgate inestimável da parte de Deus Pai, «rico em misericórdia» (Ef 2,4; cf. Tg 5,11). O que nos torna ricos não são os bens, mas o amor. Ouvimos muitas vezes aquilo que o povo de Deus diz: “O diabo entra pelos bolsos”. Começa-se pelo amor ao dinheiro, pela fome de possuir; depois, vem a vaidade: “Ah, eu sou rico e tenho orgulho disto”; e, no final, o orgulho e a soberba. É assim que o diabo age em nós. Mas a porta de entrada são os bolsos!

Estimados irmãos e irmãs, Jesus Cristo revela-nos mais uma vez o pleno sentido das Escrituras. «Não roubarás» quer dizer: ama com os teus bens, tira proveito dos teus meios para amar como podes. Então, a tua vida torna-se boa e a posse torna-se verdadeiramente uma dádiva. Pois a vida não é o tempo para possuir, mas para amar (Catequeses, 2018).