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O diário de Cornélio Schmidt (parte I)

O Diário - 14 de janeiro de 2025

O diário de Cornélio Schmidt (parte I)

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani

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Era o final do mês de julho de 1904 quando Barretos recebeu dois forasteiros que viajavam há dias ao galope de cavalos e mulas. Chegaram dia 21 e ficaram instalados no Hotel Andrade, situado à esquina da rua 8 com a avenida 19, um local de importante congraçamento entre “os de casa” e “os de fora”. Ali, receberam autoridades da vila, que logo foram assuntar suas intenções e contar sobre a vida naquele recanto. Um deles era gente da terra, conhecia muito bem a vastidão do sertão paulista; o outro era americano e o grande interessado naquela viagem.

O primeiro era Cornélio Schmidt, engenheiro formado pela Escola de Minas de Ouro Preto, proprietário agrícola, explorador do território paulista e seu exímio conhecedor. O outro era Thomaz Canty, estadunidense que tinha em mente um projeto de colonização americana em terras paulistas. A intenção do Ms. Canty era encontrar terras públicas ou particulares, adquiri-las e, junto ao seu sócio Hunt, fundar uma colônia americana com 500 famílias ianques. Para tanto, tiveram anuência e incentivo do estado, por meio do Secretário de Agricultura, Carlos Botelho. Este, designou o engenheiro Cornélio Schmidt para acompanhar o americano em excursões nos terrenos desconhecidos do estado para encontrar terras favoráveis à implantação da colônia. 

No projeto exposto por Canty, as famílias americanas viriam com seus próprios capitais e inicialmente se dedicariam à prática de lavouras de cereais, hortaliças e frutas. Mais tarde, seriam orientadas à industrialização dos produtos da lavoura e da criação, como carnes em conserva, laticínios etc., além da indústria pastoril com fornecimento de carne verde. Contariam com frigoríficos que deveriam existir próximos a cachoeiras, de onde viria a energia hidráulica para seu funcionamento. 

Mas tudo não passou do “futuro do pretérito”, já que Canty parece não ter gostado muito do que viu – talvez, segundo relatos, por não ser um bom conhecedor de agricultura tropical – e não instalou a dita colônia americana. Mesmo assim, o “feito não feito” muito nos interessa, pois nessas aventuras dos viajantes pelo sertão paulista, o interesse dessa crônica não está na partida, chegada ou resultado, mas sim no percurso. (continua).