O diário de Cornélio Schmidt (parte II)
karla-armani-medeiros - 21 de janeiro de 2025
PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani
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Cornélio Schmidt e o americano Thomaz Canty percorreram os “terrenos desconhecidos” de São Paulo por 2 meses, de julho a setembro de 1904. De Franca a Cerqueira César, os dois forasteiros passaram por vilas, arraiais, pousos, fazendas, matas, rios, cachoeiras, estradas e diversos recursos naturais e (quase) urbanos. Foram 350 léguas percorridas em viagem fatigante, no dorso de animais, muitas vezes em locais inóspitos. Detalhadamente, cada parada e percurso foram descritos por Schmidt em seu “Diário de uma viagem pelo sertão de São Paulo, realizada em 1904”; publicado nos anais do Museu Paulista em 1969. E é neste diário que mora o nosso assunto: Barretos.
A perspectiva do outro sobre um lugar desconhecido é sempre muito interessante à História, pois além de informar detalhes nem sempre percebidos pelos naturais da terra, também constrói narrativas, memórias, lendas e outras realidades. Trata-se de um olhar antropológico, podendo ser ou não despretensioso, o qual a História enxerga como fértil fonte documental e cultural. Por isso, o diário de Schmidt revela olhares sobre diversos pontos da nossa Barretos do início do século XX, atendo-se principalmente à sua tentativa de urbanização e às iniciais mudanças de sua paisagem natural, além dos costumes de seus habitantes espalhados em um território imenso. O estranhamento, as críticas e os comentários nem sempre agradáveis sobre as características do lugar e de seu povo são parte de uma fonte não oficial e de um olhar individual sobre o desconhecido.
Após partirem de Franca, os viajantes foram para Nuporanga e, atravessando o rio Pardo, chegaram a Barretos. Era julho, o clima em Barretos era frio e de vento. O hotel do sr. Joaquim Theodoro de Andrade foi o abrigo dos forasteiros até o dia 25. Por esses quatro dias, Schmidt narrou que Barretos era “bem arruada”, tinha matriz (ainda em construção), e era lar de banqueiros, capitalistas, rábulas, engenheiros etc. Recebeu a visita de diversos personagens bem conhecidos, a começar pelo engenheiro Roberto John Read, que muito conversou com sr. Canty. Políticos como o cel. Raphael Brandão, o cel. Antônio Garcia e o cel. Silvestre de Lima também lhe visitaram. Este último chamou a atenção por ter sido descrito como “rapaz amável, inteligente e poeta”. (continua).