O diário de Cornélio Schmidt (parte III)
O Diário - 28 de janeiro de 2025
PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani
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Entre os visitantes que foram recepcionar os viajantes Cornélio Schmidt e Thomaz Canty, estavam o juiz de direito, dr. João Baptista Martins de Menezes e o padre Francisco Valente; personagens marcantes na história de Barretos. O primeiro foi muito elogiado no diário de Schmidt como muito amável e simpático, além de muito católico. Dizia também que a população parecia estar satisfeita com a “distribuição da Justiça” na comarca. Já o padre Valente foi descrito como um senhor de 70 anos, forte, de espírito vivo, com fisionomia de Leão XII, mas que mal escutava e que falava muito. Por outro lado, Schmidt admirou a atitude do padre diante o tradicional “toque da Ave-Maria”, quando, durante a conversa, o vigário simplesmente parou de conversar, persignou-se e pôs-se a rezar.
Esses tipos de costumes, somados aos encantos naturais do lugar, são pontos interessantes do diário pois revelam surpresas, estranhamentos e belezas. Como, por exemplo, a nota sobre a quantidade de galos que cantavam durante o dia e a noite, e o fato do sr. Canty achar “muito engraçado o modo dos caipiras sentarem-se sobre os calcanhares”, ou como ele mesmo dizia “caipôro”. Um nítido olhar etnocêntrico.
A estranheza em relação aos habitantes, seja do mato ou da vila, não parou por aí, visto que sobre as pessoas que moravam em Barretos, Schmidt escreveu: “Noto aqui em Barretos, que não tem pessoas bonitas, quer homens quer mulheres, e que apesar do clima parecer seco e bom, no entanto são todos pálidos e feios!”. (Acredite se quiser, caro leitor). Comentário não muito diferente da população do arraial da Prata, distrito de Barretos descrito como um local composto de capela e de 20 casas distantes uma das outras: “Os moradores, todos brasileiros, têm mau aspecto, não são feios, mas parece que não gozam saúde, devido à proximidade da água que tem as margens com brejos, ou terrenos baixos”. Seja ao olhar de Schmidt ou do americano Canty, a população das terras barretenses não causou boa impressão, embora o primeiro tenha deixado claro que: “Temos sido muito bem acolhidos pelas autoridades e demais pessoas desta vila”. [continua].