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O diário de Cornélio Schmidt (parte IV)

O Diário - 4 de fevereiro de 2025

O diário de Cornélio Schmidt (parte IV)

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani

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O diário da viagem de Schmidt e do americano Canty de 1904 chama a atenção dentre muitos aspectos, mas a intenção da colonização americana em terras paulistas não deixa de ser o principal deles. E talvez tenha sido essa a impressão (e a dúvida) dos barretenses quando se depararam com as duas figuras na cidade. Tanto que o próprio Schmidt conta no diário que o sr. Pimenta, “um rábula sabichão”, junto ao redator do jornal “O Sertanejo” foram lhes fazer uma visita e uma “interview”. 

Essa entrevista possivelmente aconteceu em virtude da reportagem publicada no jornal “O Debate”, de Bebedouro, onde jornalistas expunham desconfianças do projeto americano. Por isso, na edição de 24/07/1904, O Sertanejo publicou o texto “Colonização yankee” dando publicidade às dúvidas do jornal bebedourense. Porém, quando os forasteiros chegaram a Barretos e foram entrevistados, O Sertanejo publicou outra nota, intitulada “Viajantes”, contando sobre a entrevista que os redatores barretenses fizeram com Canty e Schmidt explicando suas intenções e ainda pedindo que eles não se esquecessem que “esta futurosa zona lhes deve merecer indiscutível preferência”.

Depois de Barretos e do arraial do Prata, seguiram os dois viajantes rumo à cachoeira do Marimbondo, em Icém (que era território de Barretos) e, em seguida, para os vales dos rios Turvo e Preto, rumo ao Porto do Taboado. Para chegar à cachoeira, Schmidt escreve passagens interessantes sobre moradores (como o francês Camille trazido por Jesuíno de Mello), estradas, pousos, vendas, canoeiros, ilhas e, claro, os saltos, quedas e extensões da cachoeira do Marimbondo, como os Patos, Ferrador e o Braço Morto. Talvez por ser outono, Schmidt achou a paisagem triste, mesmo assim contribuiu ricamente com detalhes sobre a fauna e flora do que via; principalmente da cachoeira, que hoje não existe mais por ter sido submersa à usina de mesmo nome.

São tantas camadas que a História pode levantar do diário de Schmidt, ficando claro que essas poucas linhas quiseram apenas expor algumas. A nossa Barretos foi descrita por um viajante em 1904, momento de seu surgimento enquanto cidade, e por isso devíamos a Schmidt esse reencontro do tempo. [fim].