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O futuro do trânsito: e se ninguém mais dirigir?

O Diário - 27 de abril de 2025

O futuro do trânsito: e se ninguém mais dirigir?

Carlos D. Crepaldi Junior. Advogado especialista em Gestão e Direito de TrânsitoEx-Conselheiro do CETRAN-SP . Diretor da ABATRAN

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Dizem que o futuro é dos carros autônomos. Que um dia ninguém mais vai dirigir, e que a inteligência artificial vai assumir o volante. O que parecia muito distante esta cada vez mais perto de nossa realidade. Carros que se guiam sozinhos, detectam obstáculos, respeitam as leis e até decidem qual caminho seguir com base em dados de trânsito em tempo real. Tudo isso sem a interferência humana.

E é exatamente isso o que mais chama atenção, tirar o ser humano, com todas as suas pressões, impulsos, raiva acumulada, desatenção e impaciência, do centro do trânsito. No Brasil, apenas em 2023, foram registradas mais de 30 mil mortes no trânsito, segundo dados da Senatran, ou seja, uma média de 82 pessoas por dia.

Relatório Mundial de Segurança Viária 2023, publicado pela OMS, destaca que mais de 90% das mortes no trânsito ocorrem em países de baixa e média renda, embora estes concentrem aproximadamente 60% dos veículos do mundo.

Não é exagero dizer que sinistros ocorrem não apenas por erros, mas muitas vezes por cansaço, sobrecarga, distração. O trânsito reflete quem somos, ou como estamos.

Talvez por isso, o avanço tecnológico mais impressionante não esteja no carro que dirige sozinho, mas na ideia de uma convivência mais equilibrada. Um trânsito onde as decisões não sejam tomadas por impulso, mas por lógica. Onde a pressa de um não coloque em risco a vida do outro. Onde a máquina, fria e precisa, tenha mais empatia na prática do que muitos condutores têm na teoria.

No entanto, esse futuro não pode ser só sobre tecnologia. Depende certamente de escolhas humanas. De nada adianta termos veículos autônomos se ignoramos pessoas e seus comportamentos. O verdadeiro avanço é aquele que nos tira do automático, e não o que nos coloca nele.