No último dia 17, durante um debate político, uma fala chocou os barretenses que se dedicam à preservação histórico-cultural da cidade. A infeliz frase foi proferida em um evento que discutia o futuro do turismo em Barretos. Em determinado momento, insinuou-se, que para transformar o Recinto em um "espaço multiuso", com "atrativos o ano todo", seria necessário "desfazer o tombamento" daquele patrimônio, através de um "trabalho político com o CONDEPHAAT".

Obviamente, temos de repudiar qualquer tentativa de "destombamento". No entanto, se contextualizarmos tais palavras em relação ao cenário nacional, podemos avaliar melhor sua intencionalidade. Quando ouvi tal fala foi impossível não remeter a outra frase infeliz, dita pelo presidente da República em dezembro passado, quando afirmou que "ripou todo mundo do IPHAN" e que o órgão não dava mais "dor de cabeça". O "trabalho político" de Bolsonaro, no caso, foi substituir os dirigentes das superintendências estaduais e a própria presidência da instituição, por aliados. Além da semelhança semântica, já que CONDEPHAAT também se escreve com "PH", parece haver um entendimento entre apoiadores do presidente, que tais instituições e seu corpo técnico, composto por servidores com formação patrimonial, são obstáculos ao "investidor de grandes empresas", que pretendem fazer daquilo "um recinto multiuso" e, por isso, seria necessário um "trabalho político", quiçá até um destombamento, para destravar as obras. Façamos nós, barretenses, o nosso trabalho político, nossa mensagem é clara: o recinto é do povo! Seu tombamento é uma conquista fruto de muita luta! Empresários devem acatar a legislação patrimonial e adequar seus empreendimentos às características histórico-culturais do belo e tradicionalíssimo Recinto "Paulo de Lima Corrêa"!