O silêncio “veste” violência na maternidade
O Diário - 1 de janeiro de 2025
Aline Michele Marques, Psicóloga, Especialista em Psicologia Perinatal
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Dentre os tipos de violência, enxergo como uma das mais cruéis. Muitos podem questionar, polemizar, discordar ou simplesmente a ignorar, afinal esse tipo de violência é assim mesmo... poucos falam, redes sociais se calam, mas mulheres a “embalam”.
Estamos falando de um tipo de violência contra a mulher, que vem no momento de maior fragilidade/vulnerabilidade das suas vidas.
Quando a mulher está em trabalho de parto – “Partolândia” – ativam vários sentidos e sentimentos, dentre eles o de conectar-se profunda e intensamente com sua “cria”. Ela então direciona todas as suas energias para esse processo, trabalhando mente e corpo para o momento do encontro. Durante esse processo, tende a desconectar-se das demais preocupações, atribuições e/ou pessoas que não completem esse cenário. Os sentidos: olfato, paladar, visão, tato e audição ficam mais apurados e canalizados para a transição interna/externa com o bebê.
Se indesejavelmente, surge algo que a importune, sinais de alerta são emitidos, excesso de cortisol desfavorecem trabalho de parto fluídico e dificultam o nascer. Se isso permanece até pós parto, retirando o direito desse encontro sublime, nem a “ocitocina” (hormônio do amor) poderá suprir tal desconforto. Ficar revivendo uma violência obstétrica, pode ser cruel e insuportável para o Ego, pois intensifica a sensação de “impotência” feminina, descaso e impunidade.
Um tipo de violência desleal, pode gerar comprometimentos na formação de vínculo mãe e bebê, bem como colaborar para um aumento de depressão pós parto e danos psicológicos irreversíveis.
Essa violência pode vir explicita ou implícita, num exame importante, que no pré-natal não é solicitado, numa fala de descaso, numa surdez proposital, numa generalização ou opinião pessoal. Pode vir na calada da noite, no cansaço do plantão, na impaciência por falta de leito, verbal ou fisicamente durante o processo latente ou expulsivo do parto, que chegam a “lacerar” alma. Vem concomitante com o “sopro” do nascer, no “pele a pele” roubado, na “hora ouro” de “lata”. No direito de amamentar em livre demanda, que substitui-se por protocolos/procedimentos rígidos e carentes de subjetividade. No “olhar” que não enxerga, só julga. Na cesárea, que grita por parto normal, disfarçada de necessária ou no parto “anormal” que faz as mulheres se culparem pela escolha.
SIM, você pode tê-la vivido, nem se dado conta ou sofrer até hoje calada.
Então, vamos falar sobre?
Violência Obstétrica dói, não só no momento, mas em outras gestações, na vida sexual, profissional e até em outras gerações.
Já é passada a hora de nos unirmos e nos munirmos de informações.
Violência Obstétrica, basta!! De violência, nós mulheres já sofremos tantas outras, para 2025, desejo que todas as mulheres soltem esse GRITO preso na garganta e reivindiquem seus direitos, para que possam PARIR e AMAMENTAR seus filhos com DIGNIDADE e devido RESPEITO!!