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Para Deus, um coração pobre é o seu templo mais rico

Diocese de Barretos - 9 de novembro de 2024

Para Deus, um coração pobre é o seu templo mais rico

Para Deus, um coração pobre é o seu templo mais rico

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O templo de Jerusalém constitui o cenário do Evangelho deste 32º domingo do Tempo Comum. Jesus viu que “muitos ricos depositavam grandes quantias de oferta” (v. 41), mas sublinhou o gesto de uma mulher: “deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada” (v. 42). De fato, “ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (v. 44).

A oferta total da pobre viúva antecede a Páscoa de Jesus. Na cruz, ele se ofereceu totalmente! A Páscoa do cotidiano é sempre limiar da Páscoa da ressurreição. Nesse sentido, a expressão “ofereceu tudo aquilo que possuía” é muito forte e transforma-se em itinerário de um projeto de vida. Só é possível tatear o significado do amor de Deus com a régua da oferta da vida, da gratuidade, da generosidade, do amor.

Lawrence Carroll, artista estadunidense de origem australiana, é muito original ao estabelecer como ponto de partida de toda a sua obra materiais reciclados, ligados ao drama da vida das pessoas. Ele estabelece com o abandono uma perspectiva de ressurgimento. Nada é inútil, tudo guarda uma potência de vida e pode ser transformado. O rejeitado aguarda a redenção, é sinal de ressurreição.

Também nosso grande poeta brasileiro Manoel de Barros ajuda a desenhar o quadro do abandono, da importância de olhar as coisas com outros olhos, de outras perspectivas, a vida feita dom, oferta que não retém nada: “Prefiro as máquinas que servem para não funcionar: quando cheias de areia, de formiga e musgo – elas podem um dia milagrar de flores. (Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono). Também as latrinas desprezadas que servem para ter grilos dentro – elas podem um dia milagrar violetas. (Eu sou beato em violetas). Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus. Senhor, eu tenho orgulho do imprestável! (O abandono me protege)” (Livro sobre o nada, poema 11, 1996). 

A tentação da vaidade, da autorreferencialidade, de fazer para aparecer, que Jesus critica duramente no início do Evangelho, com base na forma de vida dos escribas, é chamada de atenção para a verdade do nosso estilo de vida, que não pode ser mascarado por gestos isolados, mas deve, pouco a pouco, revelar a verdade do coração.

Um coração pobre, capaz de doar e doar-se, de não reter nada para si, é o sinal mais sagrado e o templo mais rico para Deus! A liturgia da Palavra deste domingo é como uma gramática para não confundirmos o que é prioritário na vida de fé. Os gestos e palavras de todos os dias, pequenos, “que parecem não funcionar para nada”, devem, aos poucos, nascer do amor e nele se purificar. A grandeza das viúvas é a grandeza de quem aprendeu a amar e confiar, sem mascarar nada (Vida Pastoral, Paulus, n. 360).