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Política do apaziguamento

O Diário - 29 de junho de 2024

Política do apaziguamento

Priscila Ventura Trucullo é professora de história da rede pública estadual; @pritrucullo

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A história ensina que antes do início da Segunda Guerra Mundial, a parte do mundo que mantinha suas democracias liberais, negligenciou o avanço do nazi-fascismo e subestimou as intenções expansionistas de Hitler e seus aliados. Promovida pelos governos francês e britânico no período do entreguerras, a política do apaziguamento justificava-se pelo objetivo de evitar outra guerra de proporções mundiais, haja vista o trauma da Grande Guerra ainda fresca na memória europeia. No entanto, um outro motivo, muitas vezes esquecido ou tratado como secundário, foi determinante para a recalcitrância das democracias em reconhecer o perigo nazifascista: seu anticomunismo. 

Diante do crescimento da influência soviética no leste europeu, os regimes de Hitler e Mussolini eram vistos com simpatia pelo ocidente e tratados como uma espécie de “cordão sanitário” contra o avanço do socialismo capitaneado pela União Soviética. Tal postura acabou impulsionando o crescimento de movimentos, partidos e lideranças fascistas no coração das democracias liberais. Neste sentido, não podemos esquecer que no Brasil, o integralismo constituiu-se como o maior movimento fascista fora da Europa. Ademais, durante os anos 1930, os camisas verdes de Plínio Salgado puderam contar, senão com o apoio explícito de Getúlio Vargas, ao menos com a sua falta de objeção enquanto estes lhes serviam de ponta de lança contra os comunistas. Neste sentido, é importante observar como, ainda hoje, alguns grupos tidos como democratas levam a cabo uma política caracterizada como de “conciliação” que muito se assemelha ao “apaziguamento” do entreguerras, naturalizando posturas e políticas de cunho fascistizante e tratando figuras expoentes da extrema direita como moderadas, capazes de diálogo ou dignas de boa fé. Não poderíamos incorrer em maior erro, pois para além de subestimar as intenções de líderes autoritários, incentiva-se a instrumentalização da violência fascista com objetivos de sufocar a oposição às esquerdas, regredir direitos trabalhistas ou criminalizar movimentos sindicais e sociais. 

Priscila Ventura Trucullo é professora de história da rede pública estadual; 

@pritrucullo