Por Pe. Daniel Canevarollo, Vigário São Benedito, Barretos - SP

Vivenciando o tempo da Quaresma, a igreja convida os fiéis a se engajar na experiência vivida por Jesus, que passou quarenta dias no deserto em oração para ser fortalecido e ser fiel à vontade de Deus. Esse período é uma oportunidade para aprofundar a vida espiritual e abandonar as tentações que, muitas vezes, se disfarçam perante às vontades humanas.

Na liturgia da palavra do 1º Domingo da quaresma, no evangelho de São Lucas (cf. Lc 4, 1-13) foi abordada a tentação de Jesus, que, guiado pelo Espírito Santo, resistiu às investidas do Diabo. Diferente de Adão e Eva, que sucumbiram às tentações e mentiras do Diabo desejando ser como Deuses (cf. Gn 3,1-23). Jesus manteve-se firme em sua liberdade e fidelidade à vontade de Deus, rejeitando as ofertas de poder e fama que lhe foram feitas. A resistência de Jesus contrasta com a queda de Adão e Eva, ressaltando sua força e compromisso espiritual em ser fiel a Deus.

Diante da consciência desta experiência podemos pensar mais sobre a espiritualidade deste tempo que nos chama a percebemos e respondermos quais são as vontades que tem nos guiado. A vontade de Deus? Ou as nossas próprias vontades? – A vontade Deus nos faz livres, pois nela se encontra a fonte e a verdade de nosso ser que consiste no chamado a vivermos a comunhão e as práticas do amor. As nossas próprias vontades por mais bonitas e atraentes que sejam é sempre limitada, carregada de fraquezas, egoísmo, indecisões e práticas individualistas semelhante às mesmas práticas da força do mal.

Como tem sido triste perceber o número crescente de pessoas que em nome de suas próprias vontades se tornam escravas de si mesmas se achando livres. Sem perceber elas se tornam escravas da beleza passageira, da vaidade, do corpo, do dinheiro, de tantos outros vícios, coisas e bens materiais. Querendo ser Deuses, elas se tornam controladoras, arrogantes e inconvenientes passando a exigir demais, reivindicando suas próprias vontades e até o agir de Deus. As pessoas assim passam a exigir demais e se oferecer de menos. Estes são alguns dos frutos daqueles que dispensam ouvir a voz de Deus, eles tendem a achar que não precisam da graça de Deus e assim eles se tornam frustrados divisores.

 A figura do Diabo que aparece na palavra de Deus é a figura daquele que divide, o adversário, ou seja, aquele que põe fim ao projeto de Deus que é comunhão. A figura do Espírito Santo é a de gerar comunhão com Deus e os irmãos entre tantos outros dons. Por isto, é preciso que nos perguntemos nesta quaresma: Por quem eu tenho sido guiado? Pela força do Espírito Santo ou pela Força diabólica de minhas próprias vontades? Respondamos a esta pergunta e nos esforcemos por encontrar o propósito deste tempo da quaresma que é a conversão através da escuta da vontade de Deus em nossa vida. Bom exercício espiritual a todos!