Quando deus é o fiador dos pobres
Diocese de Barretos - 6 de fevereiro de 2025
Quando deus é o fiador dos pobres
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
Na década de sessenta, a Igreja Católica latino-americana, motivada pelas conclusões do Concílio Vaticano II (1962-1965) e buscando implementá-las em sua realidade específica, fez uma “opção preferencial pelos pobres”, como enfatizado no tema central da Segunda Conferência Episcopal Latino-Americana, em Medellín (1968), e confirmado pela Terceira Conferência, em Puebla (1979).
De fato, desde então, a evangélica opção preferencial pelos pobres marcou decisivamente a ação evangelizadora da Igreja neste continente, sendo ela a maior organização historicamente promotora de ações sociais, fundando e conduzindo instituições voltadas para essa finalidade. Como pontuou claramente o Papa Bento XVI no discurso inaugural da Quinta Conferência, em Aparecida (2007), “a opção preferencial pelos pobres é cristológica”, não sendo apenas uma opção social, mas evangélica, pois foi o próprio Senhor Jesus quem a fez primeiro: de rico que era, fez-se pobre para assumir a nossa condição humana e enriquecer-nos com sua própria vida. Nele se cumpriu a profecia de Isaías, que Ele mesmo retomou em sua pregação: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça” (Lc 4,18-19).
Madre Teresa de Calcutá, modelo universal de caridade, na obra O Amor Maior, afirma: “Nossa pobreza deverá ser a verdadeira pobreza evangélica: amável, terna, alegre e generosa, sempre disposta a expressar o amor. A pobreza, mais do que renúncia, é amor. Para amar, é necessário dar. Para dar, é necessário estar livre do egoísmo”. Por isso, a santa da caridade não teme dizer: “Não temos nenhum direito de julgar os ricos. Pela nossa parte, o que buscamos não é uma luta de classes, mas um encontro entre as classes, para que os ricos salvem os pobres e os pobres [salvem] os ricos”.
Santo Agostinho de Hipona, comentando os Salmos 36, 3 e 6, interpreta o versículo que diz: ‘Quem faz caridade ao pobre empresta ao Senhor’: “O Senhor não precisa de ti, mas há outro que necessita de ti. Dás a este, e é ele quem recebe. O pobre não tem com que te retribuir; no entanto, quer retribuir, mas não tem com que te pagar. Só lhe resta a boa vontade de rezar por ti. Quando, porém, um pobre reza por ti, é como se dissesse a Deus: ‘Senhor, recebi emprestado, sê meu fiador’. Por conseguinte, ainda que não tenhas no pobre quem te retribua, possuis um fiador idôneo. Eis que Deus te diz em sua Escritura: ‘Dá tranquilo. Eu pago... Sou eu que recebi; a mim é que dás’. Para mostrar que Ele é fiador dos pobres e que dá fiança a todos os seus membros, disse: ‘Cada vez que o fizestes a um desses pequeninos, a mim o fizestes’”.