Queimadas e a doença do beijo salgado
O Diário - 12 de novembro de 2024
Júlia Feijó Gidrão estudante do 2º período do curso de Medicina da Facisb, orientada pelo profº Eduardo Marcelo Cândido
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Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um aumento expressivo na frequência e intensidade das queimadas, um fenômeno que impacta a vida de milhões de pessoas e traz sérias implicações não só ambientais mas também para a saúde pública. Embora toda a população sofra com esses efeitos, há um grupo que enfrenta consequências ainda mais severas: os portadores de fibrose cística (FC), também conhecida como a “doença do beijo salgado”. A fibrose cística é uma condição genética e congênita que afeta principalmente os pulmões. Causada por uma mutação no gene CFTR, que é responsável pelo transporte de íons como sódio e cloreto, essa mutação compromete a regulação das secreções pulmonares, tornando-as mais espessas e viscosas. Como resultado, o suor e a saliva apresentam excesso de sal (daí o nome beijo salgado), e o muco denso produzido pelo organismo tende a bloquear as vias respiratórias, facilitando o surgimento de infecções e dificultando a respiração. A situação se torna ainda mais preocupante quando os pacientes são expostos à poluição gerada pelos incêndios. As partículas presentes na fumaça aumentam o estresse celular nas vias aéreas, causando a morte de células pulmonares e reduzindo a expressão do gene CFTR. Isso agrava a capacidade respiratória, já comprometida, desses indivíduos, elevando a quantidade de muco e favorecendo a contração de bactérias causadoras de infecções. Estudos indicam que as células das vias aéreas de pessoas com fibrose cística absorvem mais facilmente as partículas de carbono da fumaça, o que agrava sintomas como tosse crônica, chiado no peito e produção excessiva de muco denso. A exposição contínua à poluição pode levar a uma perda progressiva da função pulmonar. Esse cenário reforça a urgência de medidas mais eficazes para controlar as queimadas no país. Embora rara, a fibrose cística é uma condição desafiadora e afeta diretamente a qualidade de vida dos pacientes. Com o agravamento da poluição, o tratamento se torna mais complexo, aumentando a necessidade de hospitalizações e o uso de medicamentos mais agressivos. Portanto, combater os incêndios é essencial para preservar a saúde de quem já enfrenta tantos desafios.
Júlia Feijó Gidrão, estudante do 2º período do curso de Medicina da Facisb, orientada pelo profº Eduardo Marcelo Cândido