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Quem é Maryse Condé?

kleber-aparecido-da-silva - 7 de março de 2023

Quem é Maryse Condé?

Kleber Aparecido da Silva -  Professor Associado 2 do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Brasília, Brasil. Foi Visiting Scholar no Centro da Fundação Lemann no Departamento de Educação na Stanford University/California/Estados Unidos em 2022. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq 

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Há cinco anos, a escritora Maryse Condé ganhou um prêmio que, apesar da repercussão mundial, foi extremamente singular - tão excepcional que a entidade que o concedeu se dissolveu logo depois. Era o chamado “Nobel alternativo”, escolhido por uma instituição ad hoc que se reivindicava “The New Academy” e era composta por membros da sociedade civil — bibliotecários, críticos literários e um amplo júri popular. Surgiu no ano em que o Nobel de Literatura oficial não foi entregue, devido a escândalos de desvio de conduta, e depois se dissipou.

No discurso de agradecimento, Condé se disse envolta num “fogo furioso” de afeto, não só de seu círculo próximo, mas de uma multidão de leitores anônimos. “Foi uma experiência que nunca senti antes”, disse. O prêmio soa adequado, em particular, para coroar essa carreira específica. Não só porque reconheceu tardiamente um talento inegável - mas porque o fez à revelia das tradições, florescendo de uma rachadura quase subversiva no cânone. Subversão esta que, segundo Condé, está se sedimentando em norma. 

Depois desse episódio, um homem negro africano e três mulheres foram tarimbados com o Nobel. “Realmente acho que chegamos a um momento no tempo em que há mais respeito pelas diferenças e minorias”, diz a escritora. Nós brasileiros/as temos uma oportunidade de ouro agora para conhecer a obra da autora que se encontra em português. E que possamos, por meio de uma filosofia educacional crítica, pensar em praxiologias educacionais, de (re)conhecermos vozes de povos que foram e que estão minoritizarizados no contexto brasileiro. Quando isto for feito estaremos ecoando uma perspectiva decolonial, que visa colocar no centro vozes de povos que sempre foram colocados à margem no Brasil, e quem sabe, possamos ter mais cidadãos/cidadãs como Maryse Condé que (re)conhecidos/as nacional e internacionalmente e que possam contribuir com uma transformação social.

Kleber Aparecido da Silva - Professor Associado 2 do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Brasília, Brasil. Foi Visiting Scholar no Centro da Fundação Lemann no Departamento de Educação na Stanford University/California/Estados Unidos em 2022. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq